terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Revolução Industrial Inglesa

A Revolução Industrial Inglesa[1]

Foi na Inglaterra que nasceu a fábrica, em razão da necessidade de aumentar a produção de mercadorias, já que a Inglaterra tinha uma frota mercante poderosa que realizava o comércio com a América, a África e a Ásia. Dessa maneira, o desenvolvimento mercantil inglês permitiu a busca de novas técnicas de produção. A fábrica e a mecanização criaram o operariado industrial, composto de mulheres, homens e crianças submetidos a um trabalho diário exaustivo, em troca de um salário capaz apenas de mantê-los vivos.

O avanço técnico decisivo para a mecanização da indústria foi a utilização da energia a vapor, a partir da máquina criada em 1712 por Thomas Newcomen e aperfei­çoada em 1769 por James Watt. A energia a vapor possibilitou o crescimento da minera­ção, da metalurgia, da tecelagem e dos transportes; foi aplicada às máquinas de bombear a água e de içar os minérios do fundo das minas, tornando o carvão mais barato; movi­mentou fábricas de fiação, de tecidos, de cerveja, de papel e moinhos de grãos.

As primeiras invenções que deram início ao processo de mecanização da produção ocorreram no setor têxtil do algodão. A indústria algodoeira concentrava-se na região do Lancaster, ligada ao comércio colonial, que recebia a matéria prima do Oriente, das Antilhas, do Brasil e das colônias inglesas da América. As máquinas que revolucionaram a produção do algodão foram: a "spinning-jenny, ou filatório, uma roda de fiar composta que produzia oito fios ao mesmo tempo, criada por James Hargraves, em 1767; a "water-frame'ou bastidor hidráulico, que produzia fios para a urdidura e a trama do tecido, desenvolvida por Richard Arkwright, em 1769; e a "mula", uma versão aperfeiçoada das duas máquinas anteriores, patenteadas em 1779 por Samuel Crompton, que chegava a produzir 400 fios da melhor qualidade ao mesmo tempo. Em 1785, Edmund Cartwright criou o tear mecânico aumentando a produção de tecidos e em 1792, Eli Whitney inventou o descaroçador do algodão, barateando a oferta da matéria prima em bruto.

As inovações tecnológicas atingiram a metalurgia com a invenção do laminador para fabricação de chapas de ferro e da pudlagem que elimina o carbono do minério de ferro, produzindo um metal de melhor qualidade. O uso do ferro e da energia a vapor permitiram a criação de barcos a vapor (1807), da locomotiva (1822) e de ferrovias de uso comercial, facilitando e barateando o transporte a longa distância. A máquina a vapor e a indústria do ferro contribuíram para a primeira arrancada da Revolução Industrial.

O avanço técnico decisivo para a mecanização da indústria foi a utilização da energia a vapor, a partir da máquina criada em 1712 por Thomas Newcomen e aperfeiçoada em 1769 por James Watt. A energia a vapor possibilitou o crescimento da mineração, da metalurgia, da tecelagem e dos transportes; foi aplicada às máquinas de bombear a água e de içar os minérios do fundo das minas, tornando o carvão mais barato; movimentou fábricas de fiação, de tecidos, de cerveja, de papel e moinhos de grãos.

Com a mecanização, nasceu o proletariado industrial, formado por homens, mulheres e crianças recrutados entre camponeses, ex-soldados e os indigentes que viviam das paróquias. Submetidos à disciplina férrea da fábrica, os operários transformaram-se em extensão das máquinas e recebendo salários de fome.

Os operários trabalhavam em fábricas que pareciam prisões e o serviço árduo com jornadas de trabalho que estendiam-se até por 16 horas, sem direito a férias, sem feriados e trabalhando inclusive aos domingos. Os primeiros industriais passaram a empregar um grande número de mulheres e crianças, cujo salário era menor. Os menores chamados de "aprendizes" ficavam confinados nas fábricas, isolados da sociedade e ao arbítrio dos patrões. Entre as diversas funções as crianças eram usadas para puxar os vagonetes nos túneis das minas ou para consertar fios quebrados atrás das máquinas.

A Revolução Industrial transformou os donos de forjas, de fiações e de tecelagem numa forte burguesia industrial. Eles tornaram-se "gentleman", possuidor de belas propriedades no campo e nas cidades, elegendo seus representantes para o Parlamento e matriculando seus filhos nas melhores escolas e universidades.

Os industriais passaram a pleitear a liberdade de comércio e o fim do protecionismo existentes sobre os produtos agrícolas, argumentando que a livre importação de cereais a preços mais baixos contribuiriam para acabar com a miséria na Inglaterra. Os proprietários afirmavam que nada daquilo era verdadeiro, pois, com os alimentos mais baratos, os industriais acabariam por reduzir os salários. A polêmica terminou com a aprovação em 1846, de leis instituíam o livre comércio.

Definiu-se assim a sociedade capitalista, baseada no Capital e no Trabalho assalariado. O capital pode apresentar-se sob a forma de dinheiro, créditos, maquinário ou terras. O capitalista - agricultor, comerciante ou industrial - controla o processo de produção, contrata e demite trabalhadores, conforme sua conveniência. Os trabalhadores vendem sua força de trabalho em troca do salário.

No decorrer do século XIX, a Revolução avançou e atingiu os países da Europa Ocidental (França, Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda) e também os Estados Unidos, o Canadá e o Japão.

O Liberalismo

O liberalismo político representado por Locke, Montesquieu e outros propunham que as monarquia fossem controladas por leis emanadas dos parlamentos ou de assembléias de representantes do povo. Eles consideravam que necessário "educar" os monarcas a fim de que o Estado pudesse preservar os direitos e liberdade do indivíduo.

A Revolução Industrial consolidou a sociedade capitalista, Os indivíduos deveriam ser livres para comprar, vender, investir e fazer contratos de acordo com seus interesses. Essas novas idéias foram defendidas por Adam Smith (1723-1790), Thomas Malthus (1766-1834) e David Ricardo (1772-1823) que formavam a "escola clássica inglesa". O pensadores liberais pregavam o fim da intervenção do Estado na produção e na distribuição das riquezas, o fim das medidas protecionistas e dos monopólios e defesa da livre concorrência entre empresas e a abertura dos portos entre os países.

Para Adam Smith, pioneiro entre os economistas liberais, a economia nacional era movida por uma "mão invisível", isto é, pelas leis naturais do mercado. Essas leis eram a livre concorrência e a competição entre os produtores as quais determinavam o preço das mercadorias e eliminavam os fracos e os ineficientes. assim, o próprio mercado regulamentava a economia, trazendo a harmonia social, sem necessidade da intervenção da autoridade pública. As funções do Estado seriam garantir a lei, a segurança e a propriedade, além de proteger a saúde e incentivar a educação.

Exercícios

1.O que foi a Revolução Industrial?

2.Por que a fábrica desenvolveu-se na Inglaterra?

3.Relacione Revolução Industrial e capitalismo.

4.O que caracteriza a sociedade capitalista?

5.A Revolução Industrial acabou com a pobreza? Explique

6.Enumere as principais características do capitalismo?

7.Qual a importância do mercado no sistema capitalista?

8.Quais os fundamentos do liberalismo econômico?


[1] Adaptado de: Fábio Costa Pedro e Olga M.A. Fonseca Coulon, In: História Moderna e Contemporânea-UFMG.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Revolução Francesa


O

mundo europeu no século XVIII era essencialmente rural, os proprietários de terras eram os "cavalheiros". As monarquias absolutas reinavam por toda parte a exceção da Inglaterra, onde o sistema parlamentar foi implantado após a aprovação pelo parlamento da "Declaração de direitos" que limitava a autoridade do monarca e garantia os direitos civis. No plano da idéias desenvolveu-se o "iluminismo" cujos filósofos como Locke, Voltaire, Montesquieu criticavam os pilares do absolutismo: a divisão da sociedade em "ordens", a Igreja e o poder absolutos dos reis. Na economia começava a crítica ao sistema de monopólios e outras praticas mercantilistas. Mas no final desse mesmo século “a quantidade de agitações políticas é tão grande que alguns historiadores mais recentes falaram de uma "era da revolução democrática", em que a Revolução Francesa foi apenas um exemplo, embora o mais dramático e de maior alcance e repercussão".

1.2 A Revolução Francesa 1789-1798.

Em 1756, no reinado de Luís XV (1715-1774), a França enfrentou uma guerra desastrosa contra a Inglaterra - a Guerra dos Sete Anos 1756-63 - iniciada na América, entre os colonos franceses e ingleses. Derrotada, a França perdeu suas colônias americanas (o Canadá, a região do Rio Mississipi, a Louisiana, algumas ilhas das Antilhas). prejudicando a burguesia mercantil e enfraquecendo o tesouro real.

Ao subir ao trono em 1744, Luís XVI encontrou o tesouro real arruinado, o comércio colonial enfraquecido e grande descontentamento entre a burguesia e os camponeses. Através de seu ministro Turgot, propôs mudanças no sentido de reduzir os gastos da corte, libertar o comércio de taxas e de aduanas internas, aumentar o imposto sobre a terra incluindo a aristocracia e aliviar a carga fiscal sobre o povo. Essas tentativa iam de encontro os interesses do alto clero e da nobreza e Turgot foi demitido.

A situação das finanças agravou-se depois que a França entrou na Guerra de Independência dos Estados Unidos em 1778. Nova tentativa de aumentar a arrecadação fracassou com a demissão de Brienne. A bancarrota do Estado obrigou Luís XVI a demitir o ministro Brienne e nomear Necker. Para obter sugestões, Necker sugeriu ao rei a convocação dos Estado Gerais, assembléia dos representantes do 1o, 2o e 3o Estados, que não se reunia desde 1614.

A convocação para a eleição dos membros dos Estados Gerais trouxe grandes expectativas ao terceiro estado. Panfletos e jornais circulavam difundindo palavras de ordem criadas pelos iluministas como: cidadão, nação, contrato social, direitos do homem.. A massa da população não participou das eleições pois só podiam votar aqueles que tivessem ofício ou emprego público, grau universitário ou de mestre de corporação e que pagassem impostos.

A população estava sofrendo as conseqüências das péssimas colheitas que haviam provocado o aumento dos preços. Em fins de 1788, os gastos com o pão representavam 58% do orçamento popular; em 1789, às vésperas da revolução, esses gastos passaram a 88%.

A instalação da Assembléia dos Estados Gerais deu-se a 5 de maio de 1789, em Versalhes. Os desentendimentos entre os deputados começaram quando a burguesia propôs o voto por cabeça e as duas ordens privilegiadas não concordaram. Diante do impasse, no dia 17 de junho, os deputados do Terceiro Estado apoiados pelo baixo clero proclamaram-se em Assembléia Nacional, decidindo não se separar antes de dotar a França de uma constituição.

Frente ao perigo que representava o poder da burguesia na Assembléia Nacional Constituinte, a aristocracia recompôs-se com o rei, pregando a utilização da força de dissolver a Assembléia. Mas a revolução popular impediu que isso acontecesse.

A ameaça de golpe do rei sobre a Assembléia, os boatos de iminente invasão de Paris por tropas mercenárias mobilizou as massas parisienses, dando início a uma série de manifestações chamadas jornadas populares nos dia 13 e 14 de julho, que culminaram com a Tomada da Bastilha, prisão símbolo do absolutismo, em 14 de julho de 1789. A revolta popular espalhou-se pelo interior com o campesinato saqueando depósitos, armazéns e castelos dos nobres. O "grande medo" que tomou conta do país abalou o país teve resultado rápido com a assembléia Nacional sancionando nos dias 4 e 5 de agosto de 1789, os decretos que declaravam extintos o Antigo Regime e os direitos senhoriais no campo. Em 26 de agosto de 1789, vem a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, segundo a qual todos os homens possuem direitos naturais, inalienáveis e sagrados como à liberdade, à propriedade, à segurança e a resistência à opressão.

As tentativas de Luís XVI e da nobreza de restabelecer a antiga ordem com a ajuda estrangeira, fez com que em 1792 o movimento revolucionário reacendesse com forte sentimento nacionalista. O povo acusa Luís XVI e a rainha Maria Antonieta de traição, e a 10 de agosto de 1792 apodera-se do palácio das Tulherias. Luís XVI é suspenso das suas funções e encarcerado com a família real na prisão do Templo. A República é proclamada em setembro de 1792, pela Convenção Nacional composta por girondinos (direita) de origem burguesa, pelos montanheses ou jacobinos (Robespierre, Danton, Marat, Saint-Just e Hébert) à esquerda e Planície ao centro. O Rei é julgado como culpado por traição e executado em 21 de janeiro de 1793.

Figura 1 - A Guilhotina

A guerra externa, as revoltas dos camponeses e as reivindicações dos "sans culottes" levaram os jacobinos, burgueses republicanos radicais, a dominarem a Convenção. Forma-se um governo revolucionário dominado por uma Junta de Salvação Pública que faz reinar o Terror (1793-1794. Durante este período, qualquer pessoa suspeita de ser simpatizante do Antigo Regime era geralmente executada). Apesar do Terror e das medidas de exceção adotadas Robespierre e seus seguidores procuraram atender as classes populares. A extrema radicalização e as violências praticadas pelos jacobinos foram causas de sua derrubada por representantes da burguesia mais moderada.

Favorecido pelas dificuldades enfrentadas pelo Diretório. (colegiado de 5 membros, criado pela constituição do Ano III - 1795) o general Napoleão Bonaparte deu um golpe - 18 Brumário - e assumiu o governo francês, primeiramente como cônsul e depois como imperador, dando continuidade ao processo de consolidação do nacionalismo, do liberalismo e do capitalismo na França e de dominação política da burguesia.

  1. Por que Luís XVI convocou a Assembléia dos Estados Gerais?
  2. Como o Terceiro Estado reagiu a convocação dos Estados Gerais?
  3. Qual o impasse surgido na instalação dos Estados Gerais? O que resultou desse impasse?
  4. Identifique: a) jornadas populares b)Grande Medo c) tomada da Bastilha
  5. Como se deu a queda da monarquia na França?
  6. Identifique os partidos políticos surgidos durante a Convenção?
  7. Como foi o governo dos jacobinos?
  8. O que foi o "terror"?
  9. Como terminou o governo jacobino?
  10. O que foi o 18 Brumário?
  11. Qual a importancia da Revolução Francesa para o mundo ocidental?
Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M.A. Fonseca

A Era da Revoluções


1. A Era das Revoluções

1.1 Independência dos EUA

Em meados do século 18, a disputa entre Inglaterra e França pelo comércio mundial acabou chegando à América. Assim, em 1756, iniciou-se a Guerra dos Sete Anos, em que a Inglaterra, envolvida com outros palcos do conflito, deixou praticamente aos colonos a defesa de suas possessões na América. A luta contra os franceses e seus aliados indígenas despertou nos colonos um forte sentimento de autoconfiança, bem como a consciência de sua força militar. Pela primeira vez, as 13 colônias uniram-se em torno de um ideal comum. Vários líderes militares surgiram nesta época, entre eles o aristocrata George Washington.

A inglaterra saiu-se vitoriosa do conflito contra a França, surgindo, porém, uma forte crise econômica em virtude dos gastos militares. Para recurerar seu erário (dinheiro público), os ingleses adotaram uma nova política administrativa sobre suas colônias, caracterizada pelo arrocho. A liberdade comercial que os colonos tinham até então restringiu-se às rígidas práticas do pacto colonial.

Com o término da Guerra dos Sete Anos, a Inglaterra proibiu a apropriação de terras situadas a oeste, alegando serem reservas indígenas. O fato causou forte descontentamento entre os colonos, ávidos por novas terras. No ano seguinte, a Inglaterra promulgou a Lei do Açúcar, que estabelecia uma taxa sobre o melaço comercializado pelos colonos em outros países. Logo depois, veio a Lei do Selo, pela qual a metrópole inglesa determinava que vários produtos, como jornais, revistas, baralhos e livros, fossem sobretaxados com um selo. Finalmente, em 1767, o Parlamento britânico aprovou a Lei do Chá, que dava monopólio de comercialização do produto à Cia Inglesa das Índias Orientais.

Os colonos protestaram contra a Lei do Chá e a Inglaterra reagiu com a promulgação das "Leis Intoleráveis". Os colonos reuniram-se em 1775, na cidade da Filadélfia, num congresso que reivindicava a revogação das leis. Ocorreram alguns choques entre colonos e soldados ingleses e a relação entre eles foi se deteriorando. Um ano depois, os colonos realizam o segundo congresso, rompendo com a Inglaterra e aprovando a Declaração da Independência, elaborada por Thomas Jefferson.

A Guerra da Independência durou até 1781, liderada por George Washington. A França, a Espanha e a Holanda apoiaram os colonos e a vitória decisiva contra a Inglaterra aconteceu em Yorktown, na Virgínia. Somente em 1783, entretanto, a Inglaterra reconheceu a independência das 13 colônias da América do Norte. Finalmente, em 1787, ficou pronta a Constituição, que definiu um regime republicano para os EUA.

Fonte: http://educacao.uol.com.br/historia/ult1704u7.jhtm

  1. Qual o significado da Guerra dos 7 anos para os colonos norte-americanos?
  2. Quais as consequencias da Guerra dos 7 anos para a Inglaterra e para as 13 colônias inglesas da América?
  3. Identificar: Lei do selo, Lei do Chá, Lei do Açúcar.
  4. Qual o significado do Congresso de Filadélfia para os EUA?
  5. Como foi a Guerra de Independência dos EUA.

Declaração de Independência dos EUA. 4 julho 1776

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário um povo dissolver laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno às opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.

Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.

Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade.

6. Leia o texto acima e enumere os principios que regem a Declaração de Independência dos EUA

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O REINO DOS FRANCOS

O reino merovíngio (481/741)

Na Gália, as tribos francas foram unificadas no final do século V por Clóvis (481/511), convertido ao catolicismo, surgindo o primeiro reino bárbaro cristianizado. Neto de Meroveu, Clóvis deu início à dinastia merovíngia, que reinou entre os francos até 741.

A base desse reino era a legalidade pessoal que ligava o rei a seus guerreiros. Sua autoridade vinha do fato de ser chefe da guerra e da conquista; o reino era considerado seu patrimônio pessoal, dele podendo dispor à vontade.

A fidelidade pessoal ao rei era conseguida através de um juramento que os guerreiros lhe prestavam e do compromisso de a ele servir pelas armas, tornando-se assim seus vassalos. Em troca, o soberano protegia e auxiliava os vassalos, garantindo-lhes os meios de seu sustento através da doação de um “benefício”, que podia ser a terra(o domínio) ou qualquer outro bem. As constantes doações de terra acabaram por enfraquecer o poder dos monarcas merovíngios, cujo patrimônio se fragmentava continuamente.

No século VIII, Carlos Mertel, um nobre da família de Heristal, conseguiu prestígio e poder ao deter o avanço dos muçulmanos sobre a Europa Ocidental, vencendo-os em Poitiers(França) em 732. Seu filho Pepino I (741/768) destronou o último rei merovíngio e proclamou-se rei dos francos, iniciando a dinastia carolíngia (741/987). Sua coroação pelo papa Estevão II reforçou a aliança entre a Igreja e o reino franco. O Império Carolíngio (741/987) Pepino I foi sucedido por Carlos Magno (768/814) que expandiu enormemente o reino franco, anexando a Itália lombarda, a Saxônia, a Frísia e a Catalunha, tornando-se o único rei da Europa cristã. Em seu governo, houve uma espécie de renascimento cultural e administrativo, o restabelecimento da moeda e da escrita. No Natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado Imperador do Ocidente.

A COROAÇÃO DE CARLOS MAGNO COMO IMPERADOR

“Ora, como no santíssimo dia de Natal, ele tinha entrado na basílica de São Pedro, apóstolo, na ocasião da celebração das missas solenes, e estava diante do altar, com a cabeça inclinada, em oração, o papa Leão pôs-lhe a coroa na cabeça, e todo o povo romano rompeu em aclamações: “A Carlos Augusto, coroado por Deus, grande e pacífico imperador dos Romanos, vida e vitória!” Terminados estes louvores, foi Carlos adorado pelo papa à maneira dos príncipes antigos, e sem tomar, contudo, o título de Patrício, foi chamado Imperador e Augusto.” (ANAIS REAIS, ano de 801). (Citado por Freitas, G., op. cit. p. 131).

O império de Carlos Magno era administrado a partir do Palácio, localizado, na capital, Aix-la-Chapelle. Abrigava funcionários eclesiásticos, aos quais cabia o serviço religioso, e leigos, como o senescal que tratava do abastecimento da corte, o condestável que cuidava das estrebarias, o camareiro encarregado da contabilidade e o conde do Palácio, presidente do Tribunal real. Todos eram vassalos do rei.

O Palácio possuía oficinas, onde artesãos especializados trabalhavam o ouro, a prata e as pedras preciosas, constituindo-se no tesouro do rei, sempre exibido em ocasiões solenes. A cunhagem de moedas era atribuição do monarca, símbolo do poder, da ordem e da estabilidade do reino, sendo proibida a sua fabricação fora do Palácio.

O rei estava em constante movimento pelas diversas regiões do Império e de suas propriedades, não apenas para tirar o máximo de proveito delas, como também para manter sua autoridade. Em sua ausência, suas terras eram administradas pelos intendentes, que dirigiam as atividades agrícolas e controlavam os camponeses.

O comércio, que havia diminuído bastante nos séculos anteriores em função do processo de ruralização da sociedade, conheceu, no período carolíngio, uma certa renovação. Houve o aparecimento dos “portus”, povoações localizadas junto aos rios mais importantes, formadas por um cais de desembarque e uma rua com entrepostos, e com clara função de mercado.

Os camponeses trocavam seus produtos, tais como galinhas, ovos, peixes, cerâmica, nas feiras dos campos e aldeias, garantindo uma pequena renda em moeda(o dinar de prata corolíngio). Alguns metais como o ferro e o chumbo, além do sal, eram também comercializados.

Os nobres, proprietários dos domínios, vendiam sua produção excedente de vinhos e cereais, a fim de obter as moedas necessárias à ostentação e à aquisição de artigos de luxo(especiarias, perfumes, tecidos) provenientes do Oriente e que penetravam no Império Carolíngio via cidades do litoral mediterrâneo, como Veneza(Itália) e Marselha(França). O comércio de mercadorias de luxo era realizado dos negociantes especializados, que faziam parte do corpo de servidores da nobreza e dos reis.
Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989

OS REINOS ROMANO-GERMÂNICOS




INTRODUÇÃO

A crise do mundo romano e as invasões bárbaras marcaram o fim do Império Romano do Ocidente e o advento da Idade Média. Das invasões resultou uma fusão de elementos romanos e germânicos, que condicionou o futuro da Europa Ocidental nos séculos seguintes, dando origem ao feudalismo.
O processo de formação do feudalismo passou, pois, pela crise e ruralização do Império Romano nos séculos IV e V, pela constituição dos reinos romano-germânicos nos séculos VI e VII, pela organização do Império Carolíngeo nos séculos VIII e IX, para se firmar em fins do século IX e princípios do século X.

OS REINOS ROMANO-GERMÂNICOS

Ao longo do século V, os reis bárbaros, senhores de sua força, apoderaram-se das províncias ocupadas, dividindo o Império Romano do Ocidente em diversos reinos: o reino dos vândalos na África do norte, o reino dos suevos em Portugal, o reino visigodo na Espanha, o reino dos francos no norte da França, o reino dos borgúndios no centro da França. Em 476, Odoacro, rei dos érulos, derrotou Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente e ocupou Roma. Logo em seguida, foi vencido pelos ostrogodos de Teodorico, que fundou um reino na Itália e parte dos Bálcãs, em 493.
Os bárbaros eram camponeses e soldados e como já foi dito, faltava-lhes a noção de Estado. Conservando suas armas, seus hábitos, sua língua, sua religião politeísta ou ariana e seus reis, adaptaram-se ao ruralizado mundo romano, respeitando-lhe as instituições e a cultura que admiravam e reconheciam ser superiores. Introduziram, porém, alguns de seus costumes, como a noção de fidelidade pessoal entre o rei(chefe do bando armado) e seu séquito de guerreiros. Nos reinos bárbaros que se formaram, a noção de bem público não existia, pois entre eles o reino era considerado uma propriedade particular do rei, que recompensava seus fiéis seguidores com terras e produtos dos saques.
Os primeiros estados bárbaros não tiveram vida muita longa, com a exceção dos francos, que subjugando os borgúndios, iniciaram uma expansão que daria origem ao Império de Carlos Magno. Na África e na Itália, os bizantinos(do Império Romano do Oriente) dominaram os vândalos e os ostrogodos. Na Espanha, os visigodos foram vencidos pelos muçulmanos(vindo do norte da África) que aí ficaram de 711 até o século XV. Os anglo-saxões conquistaram a Inglaterra e os lombardos desceram sobre a Itália, dando uma nova configuração ao mapa da Europa.
Os nobres, francos e lombardos, ao se estabeleceram na Gália e na Itália, apropriavam-se de 1/3 ou de 2/3 das propriedades pertecentes aos romanos, baseados no princípio da "hospitalidade". Lotes de terra eram repartidos entre os membros pobres da tribo, como colonos ou pequenos proprietários. Em pouco tempo, estava consolidada uma aristocracia romano-germânica, com um campesinato dependente também da mesma origem.
As invasões germânicas contribuíram também para alterar a situação dos escravos que ainda existiam. A expansão dos ideais cristãos, a mortalidade, as fugas e o colonato levaram os senhores a considerar mais conveniente entregar aos escravos remanescentes um lote de terra para cultivo, com a obrigação do pagamento de uma renda "in natura" de gêneros variados, sendo-lhes permitido constituir família.
O estabelecimento dos reinos bárbaros levou a Igreja Católica Romana a procurar uma base de apoio que garantisse sua sobrevivência e facilitasse a missão de converter os germanos ao verdadeiro cristianismo. Isso foi conseguido a partir de uma aliança com o Reino Franco, facilitada pela conversão do rei Clóvis, responsável pela unificação de todas as tribos francas e fundador da dinastia merovíngia, no início do século VI.
A conversão dos francos ao Cristianismo tornou a Igreja protegida pelo Estado. Seu patrimônio foi ampliado com novas doações de terras concedidas pelos reis merovíngios, gozando de privilégios como a "imunidade", isto é, a isenção de impostos e de justiça do rei. A Gália tornou-se centro de irradiação do Cristianismo e os francos muito se utilizaram dos bispos e do alto clero católico para a organização e a administração de seu reino.
Além de religião, a língua latina constituiu-se também em um grande fator de aproximação entre romanos e bárbaros, por ser a língua administrativa, na qual as leis eram redigidas. Progressivamente, verificava-se um processo de fusão de elementos tanto romanos quanto germânicos, dando origem a uma nova Europa. O mundo romano forneceu a tradição dos latifúndios, do colonato e da vinculação dos camponeses à terra, enquanto os germanos contribuíram com a noção de fidelidade pessoal e a inexistência da noção de coisa pública, sendo reino considerado patrimônio pessoal do rei, que dele podia dispor como quisesse.


O DOMÍNIO E O COLONATO:

O SISTEMA SENHORIAL

Na integração da herança romano-germânica, formou-se uma nova sociedade em que se fundiram a grande e a pequena propriedade, o camponês livre e o trabalhador escravo, emergindo o domínio e o colonato.
O domínio ou senhorio tornou-se o modelo da propriedade rural do mundo romano-germânico, principalmente na Gália, sofrendo algumas variações de região para região. Pertencia aos grandes senhores - potentiores - de origem romana ou bárbara e à Igreja. Com área variável(entre 200 e 2000 hectares), constituia-se de parte interligadas: a reserva senhorial, os lotes(manso) destinados aos camponeses e os bosques, prados, baldios e pastagens, de uso comum.
A reserva senhorial, de uso exclusivo do senhor, consistia na melhor e na maior parte das terras do domínio. Era formada pela casa senhorial, cercada de celeiros, estábulos, fornos, oficinas artesanais, chiqueiros, moinho, capela, pomar e horta. Possuía também terras aráveis para o plantio de vinhas e cereais, além de prados e bosques, onde era praticada a caça.
Os mansos ou tenências eram lotes de 12 a 15 hectares, situados no interior do domínio, arrendados aos escravos e camponeses, livres(colonos), devendo seu cultivo suprir as necessidades de cada família. As casas dos camponeses agrupavam-se num determinado local do domínio, formando uma aldeia.
O colono tinha de prestar determinado número de jornadas de trabalho gratuitas(corvéias) para o senhor, a quem cabia a proteção e a garantia de terra para o cultivo. As corvéias consistiam em lavrar, plantar, colher e transportar gêneros alimentícios nas terras da reserva senhorial e executar serviços gerais como consertos e manutenção da propriedade. O camponês era também obrigado a entregar ovos, galinhas, ovelhas ou leitões como uma renda "in natura" devida ao senhor, além de moedas de prata pelo uso do pasto e de benfeitorias senhoriais como o moinho. O trabalhador escravo estava sujeito às mesmas imposições que o livre; entretanto, podia ser doado ou vendido com o domínio e devia fornecer trabalho garantido ao senhor a qualquer momento em que fosse solicitado.
O colonato, que atingia praticamente todos os camponeses, significou ao mesmo tempo um aviltamento da condição do homem livre agora submetido ao senhor e uma melhoria na situação do escravo que recebia um lote de terra para cultivar. A partir do século IX, ambos tiveram sua condição nivelada, passando a ser chamados de servos da terra.
O proprietário do domínio(senhor leigo ou eclesiástico), através das corvéias(trabalho gratuito), apoderava-se de grande parte do trabalho do camponês. Essa forma de exploração tornou-se a base do sistema senhorial.

Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989

O CRISTIANISMO



O Cristianismo, religião fundada por JESUS CRISTO (1 a 33 d.C.) na Palestina, propagou-se pelas províncias do Império Romano baseado nas idéias de igualdade de todos perante Deus, na humildade, no amor ao próximo e na salvação após a morte. Os cristãos eram rigorosamente monoteístas e se recusavam a cultuar o Imperador e os demais cultos pagãos. Por isso, foram muito perseguidos pois sua fé em Deus era vista como uma ameaça à autoridade imperial.

Durante os séculos I, II e III, os cristãos procuraram se organizar internamente para melhor resistir às perseguições e para continuar praticando e difundindo os ensinamentos de Jesus Cristo. No fim do século III, as regiões mais cristianizadas eram o Egito, a Ásia Menor, a Síria, a Itália, a Gália Narbonense e a Espanha.

Em 312, o imperador Constantino venceu o general Maxêncio que lhe ameaçava o trono, usando em suas legiões o símbolo cristão, a cruz. Como reconhecimento, converteu-se ao Cristianismo e no ano seguinte proclamou o Edito de Milão, concedendo a essa religião uma igualdade de situação com os demais cultos pagãos e cessando com as perseguições.

Ao aceitar a liberdade doculto cristão e patrocinar em 325 o Concílio de Nicéia que definiu as bases da Igreja Católica, Constantino buscava obter uma unidade religiosa que facilitasse o controle sobre a população e fortalecesse a autoridade do Imperador. “Eu me propunha a unificar a opinião de todos os povos sob a Divindade e restituir ao Império, que me parecia atingido por muitos males, os eu antigo vigor. Esperava que, se tivesse conseguido estabelecer um acordo geral no campo religioso, a administração dos negócios públicos teria obtido vantagens.” (CONSTANTINO, segundo seu biógrafo, Eusébio de Cesaréia).

A partir de Constantino, a Igreja passou a receber doações do Estado e verbas provenientes dos impostos. Os bispos foram equiparados aos altos funcionários do Império, incorporando-lhe uma enorme e dispendiosa burocracia clerical, formada de bispos, diáconos e padres.

Embora buscasse a unidade e a universalidade, a Igreja Católica(do grego Katholikós = universal) achava-se, no século IV, profundamente dividida internamente entre os adeptos do sacerdote Ário - que não aceitava a idéia de um Cristo da natureza divina como Deus Pai – e os demais membros do clero, defensores do dogma da Santíssima Trindade.

Em 380, o imperador Teodósio, através do Edito de Tessalônica, impôs a todos os súditos do Império a religião católica “que o apóstolo Pedro transmitiu aos romanos”, de acordo com as normas do Concílio de Nicéia, reconhecendo a “única divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, ou seja, da Santíssima Trindade. Com isso, tanto pagãos quanto arianos foram colocados fora da lei e o catolicismo se transformou em religião oficial do Império. Mesmo combatido, o arianismo foi muito difundido, particularmente no Oriente e entre os bárbaros.



A organização da Igreja



Na estrutura geral da Igreja cristã, os bispos, considerados os sucessores dos apóstolos, conquistaram em muitas cidades poderes maiores do que as autoridades do Estado. Assim, a organização primitiva comunitária da Igreja foi sendo substituída por um sistema administrativo e hierárquico, semelhante ao do Império.

A cidade, com seu território urbano e rural formava uma diocese sob a liderança de um bispo, auxiliado pelos cônegos e pelos curas, encarregados das paróquias. As dioceses agrupavam-se em províncias, que tinham à frente um arcebispo ou bispo metroplitano. No topo da hierarquia encontravam-se os patriarcas, encarregados de um conjunto de províncias, com sede nas cidades mais importantes: Roma, Alexandria, Jerusalém, Antioquia e Constantinopla.

No Ocidente, aceitava-se que o bispo de Roma, sucessor de apóstolo Pedro e pastor da primeira cidade do mundo, exercesse uma posição predominante, sendo chamado de Sumo Pontífice ou Papa, o chefe supremo da Igreja Católica Apostólica Romana. No Oriente, a supremacia do Papa nunca foi aceita, prevalecendo a existência dos patriarcas.



A “Cidade de Deus”



No ano de 410, pela primeira vez após oito séculos, Roma, a “cidade eterna”, foi ocupada e saqueada pelos bárbaros visigodos, liderados por Alarico. O acontecimento, de grande repercussão, foi atribuído pelos pagãos aos cristãos, devido ao abandono do culto dos antigos deuses, que agora manifestavam sua vingança. Os cristãos sentiram-se acometidos de muito pessimismo, substituindo o triunfalismo que conheciam desde o reconhecimento de sua religião pelo Egito de Milão, em 313.

Nesse momento difícil do Cristianismo, destacou-se Agostinho, o bispo de Hipona(cidade do norte da África) e a voz mais importante da Igreja na época. Agostinho defendia a tese de que o homem é condenado pelo pecado original ao inferno e somente pode se salvar através da graça divina. O homem se afasta de Deus por sua própria vontade, enveredando-se pelo mal. É então que a graça divina intervém e pode salvá-lo. Mas nem todos conseguem se salvar, só os escolhidos por Deus.

Essas idéias aparecem formuladas em sua obra “A Cidade de Deus”, escrita entre 413 e 426. O pecado foi responsável pelo aparecimento da “cidade dos homens’, marcada por sofrimentos, guerras e fome, exceto para aqueles eleitos por Deus para a salvação e que edificariam a “idade de Deus”, vivendo em bem-aventurança. Segundo Agostinho, as duas cidades coexistiam, “cidade dos homens” com suas leis, costumes e poderes próprios e a “cidade de Deus” formada pela Igreja e pelos cristãos destinados à salvação, que viria no dia do Juízo Final. A queda de Roma era considerada um castigo de Deus imposto aos homens pelos seus pecados, ao mesmo tempo em que a “cidade de Deus” continuava sendo edificada. E Santo Agostinho afirmava: “Roma não é eterna, porque somente Deus é eterno.

A teoria agostiniana das duas cidades foi utilizada durante toda a Idade Média para justificar a predominância do poder espiritual(a Igreja) sobre o poder temporal(o Estado) e a sua doutrina da graça e do pecado se tornou a base do cristianismo medieval.

A Igreja e o fim do Império Romano


Com a crise e o fim do Império Romano em 476, a Igreja foi a única instituição que sobreviveu organizada e não sucumbiu frente às invasões germânicas. Naquele mundo inseguro e confuso, à medida em que o Estado romano se desintegrava, a Igreja assumia muitas de suas funções, principalmente as de cunho assistencial.

Nessa época, a alta cúpula da Igreja já detinha imensas riquezas, transformando-as na maior proprietária de terras do Ocidente. O patrimônio recebido dos imperadores foi acrescido de esmolas, de doações territoriais e de heranças de cristãos que procuravam garantir, dessa forma, a salvação de sua alma após a morte.

Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989

O FIM DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE

No século V, a crise econômica, administrativa e militar do Império Romano do Ocidente era cada vez mais grave. Nos campos, a produção diminuía, visto que o número de escravos decaíra e grande quantidade de camponeses era obrigada a servir ao exército. Bandos de desocupados, em busca de trabalho, dinheiro e comida transformavam-se em bandidos que ameaçavam a ordem estabelecida. Nas cidades, o comércio e as manufaturas declinavam. A insegurança dificultava a comunicação entre as regiões do Império.

Com as invasões germânicas, o comércio entre as províncias interrompeu-se, a administração desintegrou-se, as estradas foram abandonadas, inúmeros campos ficaram vazios e a população diminuiu. O abastecimento das cidades(principais alvos dos ataques, pelas suas riquezas) tornou-se difícil, forçando a ida de seus habitantes para a área rural, em busca de segurança.

Progressivamente, a aristocracia romana retirava-se para seus latifúndios – as “villae” – levando consigo artesãos, pequenos comerciantes e demais moradores das cidades que, premidos pela forma, pelos impostos e pelas pilhagens, procuravam a proteção dos grandes proprietários – os “potentiores” – reforçando a tendência à ruralização. Sobreviveram apenas algumas cidades situadas junto às rotas fluviais e marítimas que substituíam as estradas como vias de comércio.

O Estado, sobrecarregado de despesas, aumentava constantemente os impostos, trazendo o desespero e a ruína aos pequenos proprietários, que, pressionados, acabavam por ceder suas terras e seu trabalho ao poderoso grande proprietário vizinho, perdendo a condição de homem livre em troca de proteção.

A progressiva ruralização modificou as antigas “villae” romanas, aumentando sua extensão e alterando o sistema de trabalho. Ao lado do escravo e dos poucos pequenos proprietários que conseguiam manter sua propriedade, crescia o número de colonos, camponeses não proprietários e dependentes dos grandes senhores. Esses apropriavam-se agora dos impostos que arrecadavam diretamente dos colonos, passando a exercer funções que pertenciam ao Estado.

O enfraquecimento do Império manifestava-se também na decadência do exército, muito infiltrado de bárbaros. Desde Constantino que as legiões romanas contavam com um número cada vez maior de germanos(godos, vândalos, éruloa, alamanos, francos, etc) em suas fileiras. A aristocracia romana era sistematicamente afastada das funções militares pelos imperadores, temerosos de sua influência. A guarda pessoal do Imperador e os mais altos postos do exército e da Corte estavam nas mãos dos germanos, que em troca de pagamento eram sempre fiéis e imunes às variações da política.

A enorme estrutura militar, política e administrativa do Império Romano do Ocidente tornava-se difícil de ser sustentada por uma economia em crise. A queda na produção e na arrecadação e o esvaziamento das cidades levaram-no ao colapso total frente às invasões bárbaras do século V, que culimiram com a tomada de Roma e a derrubada do último imperador, Rômulo Augústulo, em 476. A partir dái, a ruralização e a tendência à fragmentação política, com a divisão do Império do Ocidente numa série de reinos romano-germânicos, persistirão cada vez mais fortes.

Embora em fins do século V todo o Ocidente já estivesse ocupado pelos bárbaros, no Oriente a situação foi diferente. Ali o Império sobreviveu forte e centralizado, com suas populosas cidades de cultura e riqueza muito antigas. Os soberanos, com grande habilidade política, conseguiram rechaçar s ameaças dos bárbaros e a monarquia despótica de tipo oriental perdurou até 1453, quando a capital Constantinopla foi tomada pelos turcos otomanos.