sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Grécia Antiga



A Grécia Antiga ou Hélade localizava-se na bacia do Mar Egeu, abrangendo o território europeu ao sul da Península Balcânica, as ilhas dos mares Egeu e Jônio e a costa ocidental da Ásia Menor. Daí se espalhou pelas costas dos mares Negro e Mediterrâneo, atingindo o sul da Itália e da França e a costa da Líbia no norte da África, sendo o mar Mediterrâneo sua principal via de comunicação.
A civilização grega ou helênica começou a existir por volta de 1200 a 1100 a.C., com a chegada dos dórios ao sul da Península Balcânica, conquistando os aqueus que aí habitavam.

A GRÉCIA PRÉ-HELÊNICA

Anteriormente à chegada dos dórios, existiram na região da bacia do Mar Egeu duas importantes civilizações: a Cretense, na ilha de Creta e a Aqueana ou Micênica, no continente europeu. Essas civilizações conheciam a escrita, utilizavam armas e instrumentos de bronze e tinham agricultura, artesanato e comércio desenvolvidos. Os cretenses foram dominados pelos aqueus por volta de 1 400 a.C..
Civilização aqueana ou micênica teve como principais centros Micenas, Tirinto e Pilos, na península do Peloponeso, onde foram construídos palácios que eram fortalezas monumentais. A sociedade apresentava-se composta de numerosas famílias principescas, reinando sobre pequenas comunidades agrárias.
Entre 1200 e 1100 a.C., os centros palacianos micênicos foram completamente destruídos pelas invasões dos dórios, povo vindo do norte e de língua indo-européia, assim como os aqueus, porém de índice civilizatório mais baixo. Em compensação, apresentavam uma superioridade: o uso em larga escala de utensílios e armas de ferro, fator incontestável de sua vitória sobre os aqueus, que permaneciam na idade do bronze.
Os dórios moveram-se até o sul do Peloponeso; daí estenderam-se à ilha de Creta e algumas ilhas do Mar Egeu. Com isso, muitos aqueus migraram para as ilhas e a costa ocidental da Ásia Menor, numa região que ficou conhecida como Jônia e Eólia, onde procuraram preservar suas tradições e sua organização de cunho patriarcal, criando pequenos povoados agrícolas.
Com as invasões, o comércio, as comunicações e a arte regrediram e a escrita desapareceu, permanecendo apenas as habilidades técnicas d agricultura, da cerâmica, da metalurgia e a língua grega. Entretanto, com os dórios nascia uma nova cultura e um novo tipo de vida – a civilização helênica ou grega – que iria se expandir atingindo o apogeu no século V a.C..

O PERÍODO HOMÉRICO (SÉCULOS XII O XI a.C.)

Os quatrocentos anos que se seguiram à chegada dos dórios (de 1200 a 800 a.C. aproximadamente) permanecem bastante obscuros para nós, devido à escassez de fontes escritas. O que existe sobre a época são os poemas épicos a “Ilíada” e a “Odisséia” escritos por Homero, provavelmente no século VIII a.C., baseado em poesias e cantos transmitidos oralmente pelos “aedos” (poetas e declamadores ambulantes), entremeando lendas e ocorrências históricas relacionadas com as guerras entre os dórios e os aqueus.

A organização gentílica dos gregos

Os poemas homéricos referem-se aos acontecimentos relacionados à destruição da sociedade micênica, como as guerras de Tebas e de Tróia. Relatam as ações dos heróis gregos, com a ajuda de seus deuses. De sua leitura, percebe-se que a sociedade da época era formada por reis (basileus) e nobres, senhores de terras e rebanhos. Os nobres organizavam-se em famílias extensas – os genói – em que os membros eram unidos por laços de parentesco consanguíneo e/ou religioso.
O “genos” era o núcleo humano em torno do qual se estruturava o “oikos”, unidade econômica que compreendia terras, casas, ferramentas, armas e gado, dos quais dependia a sobrevivência do grupo. O trabalho no “oikos” – pastoreio, agricultura de cereais, legumes e frutas, produção de óleo e vinho, fiação e tecelagem – era realizado pelos membros do “genos” e pelos escravos, obtidos através de pilhagens e saques; tanto quanto possível, o “oikos” procurava ser auto-suficiente.
A principal ocupação dos nobres, chefes dos “oikos”, era a guerra praticada contra os vizinhos ou inimigos externos. As lutas se restringiam ao combate individual entre os guerreiros, pesadamente armados. O objetivo das guerras era essencialmente a aquisição de escravos e de metais que o “oikos” não produzia.
Além dos reis e dos nobres, existiam trabalhadores livres – demiurgos – ferreiros, carpinteiros, videntes e médicos, que prestavam serviços aos nobres e ocasionalmente participavam de suas assembléias, como ouvintes, sem direito a tomar decisões. Abaixo dos demiurgos, havia os tetes, homens sem posses e sem especialização, que vagavam de um lado para outro em troca de algum alimento ou roupa.

O desaparecimento da monarquia

Por volta do século VIII a.C., em algumas regiões do território grego dos Bálcãs, da Ásia Menor e das ilhas do Mar Egeu, já havia um grande número de comunidades dominadas por grupos de famílias aristocráticas proprietárias das melhores terras, que justificavam seu poder pela autoridade que lhes provinha dos antepassados, muitas vezes um “herói” famoso do passado, ou mesmo até um deus. A figura do rei desaparecera, substituída por magistrados eleitos e por conselhos de nobres.
Aos poucos o pequeno povoado tornou-se regra, com a população reunindo-se em volta das antigas fortificações micênicas, onde logo surgiam uma praça para o mercado e um ou dois templos. Esboçava-se assim a forma de vida tradicional dos gregos – a “pólis” – que irá se expandir de forma original durante os séculos seguintes.

O PERÍODO ARCÁICO (SÉCULOS VIII a.C.)

O desenvolvimento da pólis

Nas comunidades da Jônia, na costa ocidental da Ásia Menor, os imigrantes aqueus, estimulados pela localização geográfica que lhes facilitava o contato com outros povos, desenvolveram o comércio, o artesanato e a navegação. Houve também o reaparecimento da escrita, derivada do alfabeto fenício, entre 800 e 750 a.C..
Foi na Jônia que pela primeira vez ocorreu a fusão de várias aldeias em uma só, dando origem à pólis (cidade-estado), num processo denominado sinecismo, que posteriormente se estendeu por outros territórios da Grécia. As póleis eram núcleos urbanos independente e autônomos, de lavradores e proprietários de terras cujos rendimentos provinham principalmente da produção de azeite e vinho.
O território das póleis era reduzido e o solo não muito fértil. Em cada uma havia a Acrópole, colina fortificada e centro religioso; a Ágora, local central onde se situavam os edifícios públicos, o mercado e a praça de reunião dos cidadãos; o porto e o território rural. A população se aglomerava em volta da Acrópole ou se espalhava na área rural, constituindo, entretanto, campo e cidade, uma só unidade.
A organização política das cidades-estado era oligárquica, baseada no domínio da nobreza hereditária sobre o restante da população. Os cidadãos descendentes das famílias gentílicas proprietárias das melhores terras exerciam o poder, como Magistrados e como membros do Conselho de Anciãos e da Assembléia dos Cidadãos, funções e órgãos que existiam em cada cidade e aos quais somente os aristocratas tinham acesso. Aos pequenos proprietários rurais, comerciantes, artesãos, armadores, estrangeiros e escravos não era permitida qualquer atuação nos negócios.
Nas cidades gregas, o trabalho escravo esteve sempre presente, desde os tempos homéricos. Nessa época, os escravos eram estrangeiros adquiridos no mercado ou prisioneiros de guerra. Posteriormente, os pequenos proprietários que se endividavam e não conseguiam saldar seus compromissos, eram transformados em escravos do devedor, bem como toda sua família.
O grande número de cidadãos escravizados e de cidadãos livres que não possuíam terras nem direitos civis trouxe insatisfação e conflitos sociais nas póleis, contribuindo para que o sistema político de muitas delas se modificasse. Assim, os gregos experimentaram em suas cidades diferentes formas de governo, como oligarquia, tirania e democracia, de acordo com a menor ou maior participação dos cidadãos livres nos negócios da pólis, e do menor ou maior poder dos Conselhos de Nobres ou das Assembléias de cidadãos.
Esparta e Atenas representam o tipo clássico de cidades respectivamente oligárquica e democrática. Em Esparta, o poder permaneceu sempre nas mãos dos cidadãos proprietários de terras – os esparcistas. Em Atenas, as lutas políticas levaram à extensão da cidadania a todos os atenienses livres, tornando-se pois democrática, apesar da existência de grande número de escravos estrangeiros. As demais póleis gregas seguiram de perto a organização de Esparta ou de Atenas.

A colonização grega

A pobreza do solo que não produzia alimento suficiente para uma população em crescimento, a escravidão por dívidas e a concentração cada vez maior das terras nas mãos da aristocracia foram fatores que levaram a um amplo movimento migratório dos gregos durante os séculos VIII a VI a.C., em direção aos mares Negro e Mediterrâneo.
Grupos de colonos, com recursos fornecidos pelo governo de suas cidades de origem, partiam em busca de terras cultiváveis, onde fundavam novas póleis, tais quais as existentes no território grego. Assim, as colônias fundadas ao norte, nas costas da Trácia, do mar de Mármara e do mar Negro, e a oeste, nas ilhas do mar Jônio, no sul da Itália e da Sicília (a Magna Grécia), no sul da França e norte da Líbia se constituíram em saída para a crise agrária e foram fator de progresso econômico e cultural.
Os gregos fundaram dois tipos de colônias: de povoamento e de exploração comercial. Nas primeiras, denominadas “apoikias”, como Siracusa, Cirene, Tarento, Bizânico, os cidadãos se estabeleciam definitivamente, construindo cidades com acrópoles, templos e teatros. Independentes e autônomas desde a fundação, as “apoikias” mantinham apenas ligações religosas, culturais e comerciais com as respectivas ‘cidades-mães”.
As colônias de exploração, em menor número, eram chamadas de “emporion” e serviam de entreposto comercial, permitindo o fornecimento de produtos e matérias primas à metrópole. As mais conhecidas foram Náucratis, fundada no delta do rio Nilo, no Egito, e Al Minas, na foz do rio Oronte, na Síria.
A colonização promoveu uma intensa troca de produtos agrícolas, metais e artesanato, trazendo o crescimento das riquezas e das cidades. Das colônias do mar Negro, chegavam à Grécia, o trigo, o peixe, o ouro, as peles e os escravos. Da Magna Grécia, provinham o trigo, o azeite, o vinho, o ferro e o estanho. Em meados do século VI a.C., quando a expansão grega foi interrompida, devido à resistência de fenícios e etruscos que também disputavam o domínio do litoral do mar Mediterrâneo, havia centenas de póleis espalhadas em solo grego e no estrangeiro, todas situadas a menos de 40 quilômetros da costa.
A colonização beneficiou grandes e pequenos proprietários de terra, que dedicavam ao cultivo da vinha e da oliveira, produzindo vinho e azeite para exportação. Favoreceu os proprietários de oficinas artesanais(cerâmica, tecelagem, metalurgia, construção naval), cuja produção cresceu, facilitada pela divisão do uso da moeda. Ampliou a classe dos comerciantes e armadores e incentivou o progresso cultural, sobretudo nas cidades gregas da Ásia Menor.
Em função das transformações econômicas e da expansão da riqueza, os gregos foram abandonando as tradições e o mitos gentílicos e desenvolveram uma mentalidade individualista, racional e criativa, que já transparece claramente ns obras dos cientistas e filósofos jônios do século VI a.C., como Tales, Anaximandro, Anaxágoras, da Escola de Mileto. Criaram a lógica e a matemática, afirmando serem os sentidos e a razão os verdadeiros critérios para a compreensão das leis que regem o universo.
O resultado da nova visão grega de mundo foi um avanço impresssionante do conhecimento humano. Filosofia, literatura, história, geometria, arquitetura, escultura, teatro, leis, oratória, debate, voto, tudo isso desenvolveu-se entre os gregos, de uma forma original e até então nunca alcançada. O sábio Protágoras de Abdera(século V a.C.)expressou o humanismo tipicamente helênico, quando afirmou que o “homem é a medida de todas as coisas”, e a civilização grega comprovou isso.
“(...) os comerciantes(...) não só os das metrópoles, mas também os das colônias, irradiam o Helenismo para além das fronteiras étnicas. Transportam, juntamente com os carregamentos de mercadorias, a poesia, as lendas e a arte da Grécia. Por seu intermédio, os povos bárbaros ligam-se à civilização e os povos civilizados sofrem a influência que os permeia por todos os lados(...).” (GLOTZ, G. História Econômica da Grécia. Lisboa, Ed. Cosmos, p. 122, 1946)

ESPARTA – A PÓLIS OLIGÁRQUICA

A cidade de Esparta(ou Lacedemônia) era formada por cinco aldeias localizadas no vale do rio Eurotas, na região do Peloponeso. Surgiu por volta do século XI a.C., quando os dórios invadiram a região e dominaram a população aquéia, transformando-a em hilotas – escravos do Estado. Os dórios dividiram a terra dos vencidos entre si, cabendo um lote de terra a cada família dórica.
O aumento da população determinou a expansão de Esparta sobre os territórios vizinhos. No fim dos século VIII a.C., os espartanos já haviam conquistado a Lacônia e a Messênia, ao sul do Peloponeso e reduzido também seus habitantes a condição de hilotas.
A sociedade espartana era formada de três classes sociais distintas. A classe dominante era a dos cidadãos, denominados esparciatas, de origem dórica, proprietários de lotes de terra – o Kleros – cultivados pelos hilotas e transmitidos hereditariamente. Os esparciatas dedicavam-se exclusivamente às tarefas públicas e militares.
A última classe era a dos hilotas – servos do Estado. Os hilotas eram descendentes da população nativa dominada: cultivavam o Kleros e realizavam todo tipo de trabalho, sustentando os esparciatas e suas famílias. Diferentemente dos escravos de Atenas, os hilotas não eram estrangeiros comprados no mercado.
A necessidade de manter as populações nativas submetidas transformou Esparta numa sociedade fortemente militarizada, exigindo dos cidadãos espartanos uma disciplina férrea, iniciada desde a infância. Foi em Esparta que o sistema hoplítico de combate, criado pelos gregos, mais se desenvolveu. Por esse sistema, os cidadãos soldados – os hoplitas – combatiam com suas lanças, a pé, em fileiras sucessivas, protegidos por seus escudos, dispensando o uso de cavalos.
A organização política de Esparta era oligárquica, regida por leis não escritas atribuídas ao lendário legislador Licurgo. Havia dois reis, hereditários, com funções religiosas e militares. O poder de fato era exercido pela Gerúsia ou Conselho de Anciãos, órgão composto por 28 cidadãos com mais de 60 anos, inclusive os reis. A esse órgão competia fazer as leis. Os Éforos ou vigilantes, em número de cinco, eram cidadãos eleitos anualmente, com o poder de fiscalizar tudo e todos e de convocar a Assembléia dos cidadãos ou Apela. A Apela, formada pelos esparciatas maiores de 30 anos, elegia os gerontes e os éforos e votava, sem discutir, as propostas dos éforos ou da Gerúsia.
Esparta apresentava um sistema político inteiramente diferente do que Atenas desenvolvia: era uma cidade-estado fechada em si mesma, sob o controle oligárquico de talvez 8 ou 9 mil esparciatas proprietários de terra, com qualidades militares excepcionais. Isso era possível devido ao extenso trabalho dos hilotas, que retirava dos cidadãos qualquer encargo direto com a produção, pemitindo-lhes o tempo necessário para o treinamento para a guerra.

ATENAS: OLIGARQUIA, TIRANIA E DEMOCRACIA ESCRAVISTA

A cidade-estado de Atenas está situada na península da Ática, ocupada pelos jônios desde o século X a.C.. No início do período arcaíco (século VIII a.C.), sua população livre estava assim dividida: os eupátridas, de origem gentílica, grandes proprietários de terras trabalhadas por escravos; os georgói, pequenos proprietários de terras, trabalhadas por eles mesmos; os demiurgos, trabalhadores livres como artesãos, comerciantes, proprietários de pequenas oficinas, médicos, advinhos, professores. As duas últimas classes formavam o “demos”, o povo. Com o desenvolvimento da colonização e das trocas, um grande número de estrangeiros – os metecos – fixou-se em Atenas, dedicando-se principalmente ao comércio.
Nessa época, Atenas constituía uma oligarquia, governada pelos eupátridas, reunidos num conselho de nobre – o Areópado – que escolhia os Magistrados, denominados Arcontes. Os Arcontes, em número de nove, eram eleitos por um período de um ano. O principal era o Arconte-Epônimo, com funções administrativas; o Arconte-Basileu tinha funções religiosas; o Arconte-Polemarco exercia funções militares e os Tesmotetas, em número de seis, cuidavam da Justiça. Os camponeses (georgói), os artesãos (demiurgos), os estrangeiros (metecos) e os escravos não possuíam qualquer poder político.
Em Atenas, assim como nas demais cidades gregas, a base da vida econômica era a terra, que pertencia aos eupátridas e aos georgói, sendo o trabalho escravo muito utilizado, principalmente pelos primeiros. Nos séculos VIII e VII a.C., tornou-se comum a escravização de cidadãos atenienses, geralmente pequenos proprietários que não conseguiam produção suficiente para o sustento familiar e se endividavam em grãos e ferramentas junto às famílias ricas. Progressivamente, os eupátridas aumentavam suas propriedades, incorporando as terras dos devedores que não conseguiam saldar seus compromissos e transformando-os em escravos.
Essa situação trazia grande insatisfação, gerando lutas entre a aristocracia agrária e as classes populares, que se estenderam por todo o século VII a.C. e que resultaram em reformas no governo oligárquico de Atenas.


A NOBREZA E O POVO, DURANTE A ÉPOCA DA OLIGARQUIA, E AS REFORMAS DE SÓLON
“... aconteceu que os nobres e a multidão (povo) entraram em conflito por largo tempo. Com efeito, o regime político era oligárquico em tudo; e, em particular, os pobres, suas mulheres e seus filhos, eram escravos dos ricos. Chamavam-lhes “clientes” ou hectómores (sextanários): porque era com a condição de não guardar para si mais de um sexto da colheita que eles trabalhavam nos domínios dos ricos. Toda a terra estava num pequeno número de mãos; e se eles não pegavam a sua renda (de 5/6 da colheita), podiam ser tornados escravos, eles, suas mulheres e seus filhos; pois todos os empréstimos tinham as pessoas por caução, até Sólon, que foi o primeiro chefe do partido popular... O povo... não possuía nenhum direito... o povo revoltou-se então contra os nobres. Depois de violenta e demorada luta, os dois partidos concordaram em eleger Sólon como árbitro e arconte; confiaram-lhe o encargo de estabelecer uma constituição.
... Sólon libertou o povo... pela proibição de emprestar tomando as pessoas como caução... aboliu as dívidas tanto privadas como públicas...”
(ARISTÓTELES, “A Constituição de Atenas.” In: FREITAS, G. de, op. Cit. p. 67.)

Coube a Sólon, eleito arconte em 594 a.C., redigir novas leis para Atenas. Determinou a libertação dos camponese dos hipotecas e da escravidão por dívidas e proibiu empréstimos sujeitos à escravização do devedor e de sua família. Procurou estabelecer uma relação entre a furtuna do cidadão e seus direitos políticos, dividindo a população de Atenas em quatro classes, segundo o rendimento anual e individual: os pentakosiomedimnói, os hippeis, os zeugitai e os tetes. Assim, privou a aristocracia no monopólio dos cargos públicos, pois às duas primeiras classes foi permitido o acesso às magistraturas mais altas; à terceira, o acesso às magistraturas mais baixas e à quarta e última, um voto na Assembléia Popular ou Eclésia, órgão de representação dos cidadãos. Sólon critou também o Conselho dos Quatrocentos – a Bulé – composto de cidadãos maiores de 30 anos, à razão de 100 por cada uma das quatro tribos jônicas tradicionais de Atenas.
As reformas de Sólon diziam respeito exclusivamente aos cidadãos nascidos em Atenas, excluindo os comerciantes estrangeiros (metecos), os demais escravos existentes e as mulheres. Além disso, não rompeu com o poder exercido pela aristocracia, visto que não houve uma melhor distribuição das terras. Por outro lado, a proibição da escravização de atenienses intensificou a utilização do escravo-mercadoria obtido no comércio com os bárbaros, nas guerras entre as cidades ou através de pirataria.

A Tirania

A persistência das lutas entre os aristocratas e os setores populares, que incluíam também os comerciantes e armadores enriquecidos com a agro-exportação, fez surgir em Atenas a figura do tirano, líder político que tomava o poder apoiado pelas massas. Durante o século VI a.C., outras cidades conheceram também a tirania. Os tiranos eram geralmente originários do grupo de novos proprietários de terra, porém sem origem gentílica. Foram importantes porque introduziram reformas na legislação agrária em benefício das classes populares e inovaram na arte militar. Com eles, o direito à cidadania foi ampliado, as leis deixaram de ser privilégio da aristocracia e foram publicadas.
O tirano ateniense Psístrato (560/527 a.C.) procurou regulamentar definitivamente a questão agrária, distribuindo aos camponeses as terras confiscadas aos nobres; assim, o regime de pequena propriedade impôs-se em toda a Ática. Psístrato proporcionou emprego aos artesãos e aos trabalhadores urbanos, através de um programa de construção de obras públicas como templos, estradas, fortificações e portos; forneceu também assistência financeira direta aos camponeses, sob a forma de empréstimos. Em seu governo, Atenas transformou-se no maior centro urbano do mundo helênico. Com sua morte, em 527 a.C., o poder passou às mãos de seu filho Hípias, que governou até 510 a.C., quando foi deposto por uma revolução. Terminou, assim, a época da tirania, em Atenas.
Na Grécia, as tiranias foram fases decisivas no processo de transição do poder oligárquico da nobreza para a cidade-estado clássica, do século V a.C.. Significaram o fim da dominação das póleis pelas famílias gentílicas, permitindo a evolução para a democracia.

A Democracia

Com a deposição de Hípias, último tirano de Atenas, resurgiram as lutas políticas, por um breve período. Em 508 a.C., com forte apoio popular, Clístenes assumiu o governo, estabelecendo a democracia.
Clístenes dividiu a população de Atenas em 160 demói (circunscrições administrativas), espalhadas por 30 tritias e 10 tribos (circunscrições eleitorais). Cada tribo continha três tritias: uma do litoral, uma da área urbana e outra da área rural. Assim, cada tribo era composta por grandes e pequenos proprietários, mercadores, artesãos e marinheiros, acabando por completo com o predomínio das grandes famílias gentílicas.
A reforma de Clístenes instituiu também a votação secreta para o Conselho ou Bulé. Essa teve o número de conselheiros aumentado para 500 (50 por tribo), com funções de controlar as magistraturas e preparar os projetos de lei a serem submetidos à Assembléia Popular ou Eclésia, que se transformou no órgão mais importante de Atenas.
No decorrer do século V a.C., a democracia ateniense foi sendo aperfeiçoado, através de diversas medidas que ampliaram cada vez mais os direitos dos cidadãos livres, maiores de 18 anos, filhos de pai ateniense. Camponeses e artesãos tranformaram-se, assim, em cidadãos plenos, independentemente de suas posses. Entre as inovações, houve a criação dos estrategos, magistrados militares encarregados dos assuntos militares, à razão de um por tribo, e a instituição do “ostracismo” – expulsão, com cassação dos direitos políticos por dez anos, do cidadão denunciado como prejudicial à pólis, pela Assembléia Popular.
Entretanto, a democracia pressupunha a existência do escravo – mercadoria, em número cada vez maior, sendo Atenas a cidade onde a escravidão mais se expandiu. Do ponto de vista do grego, a cidadania não podia existir sem a sujeição de outros. O trabalho escravo propiciava ao cidadão o tempo livre para os serviços da pólis e para a vida intelectual, favorecendo o florescimento da civilização.
Enquanto os trabalhadores livres eram mais numerosos nas atividades de subsistência, na pequena produção mercantil e no comércio varejista, os escravos predominavam na produção em larga escala, no campo e na cidade, nas minas e nos serviços domésticos. Assim, coexistiam o trabalho livre e o trabalho escravo.
Havia também escravos alugados exercendo funções de porteiros, pedagogos, cozinheiros, amas, sendo que seus donos recebiam-lhes o salário; escravos que trabalhavam pagando a seus senhores quotas fixas ou parte dos ganhos; escravos do Estado, utilizados na pavimentação de ruas, na fabricação de moedas, como guardas, etc.
Os principais mercados de escravos no mundo grego eram as cidades de Bizâncio, Atenas, Éfeso, Corinto, Egina, Tanais, Quios e Delos. Por serem de origem muito diversificada, as revoltas de escravos foram muito raras. A alforria (liberdade) podia ser alcançada e o liberto era considerado da mesma categoria social que os metecos (estrangeiros residentes em Atenas). Liberdade e escravidão estiveram estreitamente ligadas no mundo helênico.

OS ESCRAVOS – “...As propriedades são uma reunião de instrumentos e o escravo é uma propriedade instrumental animada... Se cada instrumento pudesse executar por si próprio a vontade ou o pensamento do dono..., ... se (por exemplo) o arco pudesse tirar sozinho da cítara os sons desejados, os arquitetos não teriam necessidade de operários, nem os senhores teriam necessidade de escravo...
Todos aqueles que nada têm de melhor para nos oferecer que o uso do seu corpo e dos seus membros são condenados pela natureza à escravidão. É melhor para eles servir que serem abandonados a si próprios. Numa palavra, é naturalmente escravo quem tem tão pouca alma e tão poucos meios que deve resolver-se a depender de outrem.. O uso dos escravos e dos animais é aproximadamente o mesmo...”
(ARISTÓTELES, “Política”, in: FREITAS, G. de, op. Cit., p. 70.)

O PERÍODO CLÁSSICO (SÉCULOS V E IV a. C.)

As guerras greco-pérsicas e o imperialismo ateniense

No início do século V a.C., os gregos tiveram que enfrentar a ameaça dos persas, cujo Império chegou a abranger a Lídia, as cidades gregas da Ásia Menor, o Egito, a Trácia e a Macedônia, controlando importantes regiões fornecedoras de trigo. Em 492 a.C., os persas atacaram diretamente a Grécia continental, tendo sido derrotados pelos atenienses nas batalhas de Maratona (490 a.C.), provando a superioridade da forma hoplítica de combate. Numa outra investida, os persas foram novamente derrotados por Atenas na batalha naval de Salamina (480 a.C.), e na batalha de Platéia pelas forças coligadas de Atenas e Esparta.
Para defender as póleis do mar Egeu e da Ásia Menor de possíveis novas invasões persas, Atenas organizou uma liga de cidades sob sua liderança, denominada Liga de Delos (477 a.C.). Todas as cidades – membros contribuíram com homens, navios e dinheiro, para o tesouro da Liga, localizada na ilha de Delos. Mesmo quando o perigo dos ataques persas diminuiu, Atenas não permitiu que qualquer cidade se retirasse da Liga, tornando-se, assim, uma cidade imperialista. O símbolo da transformação foi a mudança da sede e do tesouro da Liga de Delos para Atenas, em 454 a.C., sendo seus recursos utilizados na reconstrução e embelezamento da cidade e na melhoria do nível de vida de sua população.

A democracia escravista na época de Péricles (460/429 a.C.)

Durante o governo de Péricles, que exerceu o cargo de principal estratego por 30 anos, Atenas atingiu o apogeu de sua vida política e cultural, tornando-se a cidade-estado mais proeminente da Grécia.
A prosperidade econômica de Atenas baseava-se na prata extraída dos Montes Láurion, nas contribuições cobradas aos membros da Liga de Delos e no trabalho escravo, utilizado em quantidade cada vez maior. Os escravos eram empregados nos serviços públicos e domésticos, nas oficinas artesanais, no campo e na mineração, exercendo todas as atividades que o grego considerava degradante para o cidadão.
A participação direta dos cidadãos na Assembléia Popular era a chave da democracia ateniense: não existiam representação, partidos políticos organizados nem funcionalismo burocrático. No governo de Péricles, instituiu-se a remuneração para todos os cargos e funções públicas, permitindo que o cidadão pobre pudesse participar da política sem perda de seus meios de manutenção; restringiu-se o pode da Bulé e criou-se a “ação de ilegalidade”, isto é, o cidadão responsável por uma lei, que após um ano de aplicação se mostrasse nociva à cidade, era passível de punição, de multas.
Os cidadãos do sexo masculino maiores de 18 anos podiam assistir aos discursos da Eclésia e neles intervir, sempre que quisessem, assim como propor emendas, votar questões sobre a guerra, a paz, a regulamentação dos cultos, o recrutamento de tropas, o financiamento de obras públicas, as negociações diplomáticas, etc. Diretamente da Assembléia Popular, os atenienses debatiam e decidiam os destinos da pólis. Excluídos da democracia, estavam os escravos, os estrangeiros e as mulheres.
A direção da Assembléia Popular ou Eclésia, a participação na Bulé, nas Magistraturas e no Tribunal Popular denominado Heliase eram determinadas por sorteio e com duração limitada. As reuniões da Eclésia eram realizadas na Ágora e ocorriam pelo menos quatro vezes em cada 36 dias. Os cidadãos que possuíam o dom da oratória, associado ao conhecimento dos negócios públicos e ao raciocínio rápido, conseguiam impor seus pontos de vista. O voto era aberto, pelo levantamento das mãos.

“NOSSA CONSTITUIÇÃO política não segue as leis de outras cidades, antes lhes serve de exemplo. Nosso governo se chama DEMOCRACIA, porque a administração serve aos interesses da maioria e não, de uma minoria.
De acordo com nossas leis, somos todos iguais no que se refere aos negócios privados. Quanto à participação na vida pública, porém, cada qual obtém a consideração de acordo com seus méritos, e mais importante é o valor pessoal, que a classe à que se pertence isso quer dizer que ninguém sente o obstáculo de sua pobreza ou da condição social inferior quando seu valor o capacite a prestar serviços à cidade(...) Por essas razões e muitas mais ainda, nossa cidade é digna de admiração.
(Trechos do Discurso de Péricles. Citado por AQUINO, R. & Outros, op. cit. p.201.)

A democracia e o crescimento econômico transformaram Atenas no centro da civilização grega. No espaço de dois séculos, produziu ou atraiu um grande número de filósofos, cientistas, artistas e escritores, valorizando a medida humana da cultura grega.
Às concepções filosóficas lançadas pelos pensadores gregos do século VI a.C., como Anaxágoras, Pitágoras, Heráclito, Parmênides e Zenon, acrescentaram-se os conhecimentos científicos dos filósofos dos séculos V e IV a.C., que constituíram a base do pensamento das sociedades ocidentais. Na filosofia, destacaram-se Sócrates, Platão e Aristóteles. Na literatura, surgiram autores de peças teatrais que apresentaram a condição humana explorada no íntimo de seu ser e exposta com força grandiosa. Sobressaíram-se, no drama, Ésquilo (Os Persas, Prometeu Acorrentado, Sófocles (Édipo Rei, Antígona) e Eurípedes (Medéia, Troianos); na comédia, Aristófanes (As Rãs, As Núvens, A Paz); na História, Heródoto, Xenofonte e Tucídides. Na Medicina, foi muito importante Hipócrates, de Quios e na Física, Demócrito.
Os gregos salientaram-se também na escultura e na arquitetura, de linhas sóbrias e harmoniosas. Templos, teatros de arena e outros edifícios públicos foram construídos em todas as cidades gregas, destacando-se o Partenon, templo dedicado à deusa Palas Atena, na Acrópole de Atenas, ornamentado pelo escultor Fídias.
De tal maneira foi importante e universal a cultura grega, que sobre ela assim se expressou o orador ateniense Isócrates: “De tal modo a nossa cidade se distanciou dos outros homens, no que toca ao pensamento e à palavra, que os seus alunos se tornaram mestres dos outros e o nome de Gregos já não parece ser usado para designar uma raça, mas uma mentalidade, e chamam-se Helenos mais os que participam da nossa cultura do que os que ascendem a uma origem comum.” (ISÓCRATES, Panegírico, citado por FREITAS, G. de, op. cit. p. 78.)

A Guerra do Peloponeso e o declínio das póleis gregas

A rivalidade econômica e política entre Atenas e Esparta e as cidades aliadas desencadeou a guerra do Peloponeso (431/403 a.C.0, trazendo destruição, conflitos sociais e empobrecimento das póleis. Em Atenas, a guerra prolongada arruinou os pequenos camponeses que foram obrigados a abandonar suas terras e a se refugiar na área urbana. A vitória de Esparta trouxe a instalação de oligarquias em toda a Grécia.
Terminada a Guerra do Peloponeso, o período entre 403 e 362 a.C. foi marcado pela hegemonia de Esparta, seguida pela supremacia de Tebas. O desgaste das cidades com o longo período de guerras facilitou a conquista da Grécia por Felipe da Macedônia em 338 a.C., na batalha de Queronéia. Felipe foi sucedido por seu filho Alexandre (336/323 a.C.), que fundou o Império Macedônico, englobando a Grécia, a Pérsia, a Mesopotâmia e o Egito. Chegava ao fim o mis brilhante período da Grécia antiga.
Passando a integrar o Império de Alexandre, os quadros políticos, econômico e social da Grécia foram completamente alterados. Entretanto, a cultura grega, sob o domínio da Macedônia e, mais tarde, de Roma, difundiu-se por terras distantes, aproximando-se das culturas do Oriente, o que deu origem ao período helenístico.

CONCLUSÃO

Deve-se ressaltar eu a organização política oligárquica ou democrática das cidades gregas encontrava-se num nível inteiramente novo e diferente de tudo o que já ocorrera nas civilizações antigas. Principalmente nas póleis que conheceram alguma forma de tirania, os gregos conseguiram o equilíbrio possível entre grupos sociais antagônicos. Cidadãos de diferentes níveis de riqueza e ocupação, como grandes e pequenos proprietários, camponeses, donos de oficinas, artesãos, armadores, artistas, marinheiros participavam da vida da pólis e influenciavam a formação dos governos. Com isso, os gregos descobriram a idéia de liberdade, distinta do poder pessoal dos reis ou do privilégio de famílias aristocráticas.

2 comentários:

  1. faz um post especifíco sobre as oficinas gregas pelo amor de Deus preciso disso para a aula de história mas mesmo assim adoro os seus posts

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  2. faz um post especifíco sobre as oficinas gregas pelo amor de Deus preciso disso para a aula de história mas mesmo assim adoro os seus posts

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