sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Mesopotâmia


AS SOCIEDADES DA MESOPOTÂMIA

CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS

A Mesopotâmia, “terra entre rios”, é a região da Ásia banhada pelos rios Tigre e Eufrates, que correm no sentido norte-sul, formando uma extensa planície de 140 000 quilômetros quadrados, com solos favoráveis à agricultura e à fixação do homem.
O sul da Mesopotâmia, onde os rios desaguam no Golfo Pérsico, era conhecido como Suméria e suas principais cidades foram: Ur, Larsa, Eridu e Lagash. O centro, correspondendo ao curso médio dos rios, era chamado de Acádia, sobressaindo as cidades de Babilônia, Uruc, Nipur, Sipar e Acad. O norte era denominado Assíria, destacando-se as cidades de Nínive, Nimrud e Assur.

A REVOLUÇÃO URBANA: DA ALDEIA À CIDADE

Os primitivos habitantes da Mesopotâmia viviam em aldeias isoladas de agricultores e pastores. Faziam instrumentos de pedra e vasos de argila; suas edificações eram moradias e templo de adobe, devido à escassez de pedra na região. Aproveitando os diques naturais, formados pelo Eufrates ao sul, praticavam uma agricultura rudimentar, favorecida pela fertilidade trazida pelas inundações periódicas do rio.
Por volta de 3 500 a.C., vindos provavelmente da Ásia Central, os sumérios fixaram-se na Baixa Mesopotâmia, fundindo-se étnica e culturalmente com a população local. Com a sua chegada, deu-se o aperfeiçoamento dos métodos de cultivo e de irrigação. A agricultura, além de abastecer regularmente a população, passou a gerar excedentes para o comércio. Desenvolveram-se o artesanato especializado, o uso de metais e surgiram inovações técnicas como a roda.
A população expandiu-se, dando origem a novos grupos sociais como sacerdotes, funcionários, mercadores, artesãos e soldados. Assim, as aldeias transformaram-se em cidades, como Ur, Uruk, Lagash, com governo próprio e profissões variadas. Estabeleceu-se ativo comércio entre as cidades de Suméria e seus vizinhos. Caravanas de mercadores levavam cargas de cevada e tecidos para a Ásia Menor e para o Irã, retornando com madeira, pedra e metais, que eram transformados em instrumentos, armas e jóias.
A revolução urbana fez surgir na Suméria e posteriormente em Acade, cerca de 15 ou 20 cidades-Estado politicamente independentes, mas com língua, religião, organização social e sistema econômico semelhantes.

O TEMPLO E OS SACERDOTES

O centro de cada cidade da Mesopotâmia era dominado pelo “temenos”, conjunto de templos, destacando-se o “zigurat” ou torre de degraus com um pequeno santuário no alto da elevação.
O templo era dedicado ao culto e às oferendas ao deus, geralmente uma personificação de forças mágicas que permitiam o nascimento da vegetação, a semeadura, a colheita e a sobrevivência do homem. Embora cada cidade possuísse seu próprio deus, havia entre os sumérios algumas divindades aceitas por todos, como Anu, deus do céu; Enlil, da terra; Ea, do oceano e várias divindades menores.
O deus encontrava representantes e intérpretes terrestre – os sacerdotes – cuja origem ligava-se aos mágicos e aos feiticeiros das aldeias neolíticas. Os sacerdotes, a serviço do deus e intérprete da vontade divina para o povo, estavam livres dos trabalhos nos campos e encarregavam-se de administrar e ampliar o tesouro do deus.
Aos sacerdotes do templo cabia também a tarefa de controlar as terras circunvizinhas e dirigir os trabalhos de construção de canais de irrigação, reservatórios e diques. Tinha a seu serviço artesãos especializados, como construtores, pintores, ourives, escultores, carpinteiros e escribas.
O templo era o centro da vida religiosa da cidade e o centro da acumulação de riqueza. O deus, através dos sacerdotes, emprestava aos camponeses animais, sementes, arados e arrendava os campos. Ao pagar o “empréstimo”, o devedor acrescentava a ele uma “oferenda” de agradecimento.
Da necessidade de registrar os bens doados aos deuses e prestar contas da administração das riquezas do templo teve início o sistema de contagem e a escrita cuneiforme, visto que os sacerdotes já não podiam, para as suas transações, confiar apenas na memória ou recorrer ao simples expediente de contar fazendo nós em um lenço.

A FORMAÇÃO DA MONARQUIA

As cidades-Estado da Baixa Mesopotâmia necessitavam do controle das águas dos rios Tigre e Eufrates e da importação de madeira, cobre, estanho e pedras preciosas para sobreviver. Por isso, surgiram disputas entre elas pela demarcação dos limites, pelo direito às águas e pelo acesso às fontes de matérias primas.
Essas disputas tornaram-se constantes, transformando-se muitas vezes em guerras. Nesses períodos, havia a necessidade de se escolher um cidadão capaz e destemido, para guiar os habitantes da cidade à vitória. Sim, por volta de 3 000 a.C., passou a existir o rei, denominado “grande homem” ou “lugal”, com função basicamente militar. Com a continuidade das guerras, a função de rei deixou de ser temporária, tornando-se vitalícia, hereditária e despótica.
A guerra tinha incentivos econômicos, como a conquista de campos cultivados, despojos em alimentos, armas, matérias primas e suprimento de mão-de-obra escrava. Formaram-se bem treinados exércitos, com soldados protegendo a cidade, seus canais e áreas agrícolas contra os ataques de vizinhos e tribos nômades das estepes próximas. Aos poucos, as cidades começaram a disputar entre si a hegemonia da região, dando origem a vários impérios.

O IMPÉRIO ACADIANO

Coube a Sargão I, rei de Acad, estabelecer o primeiro Império na Mesopotâmia, por volta de 2 470 a.C. Em seu governo, pela primeira vez as cidades-estado perderam sua autonomia e passaram a integrar o Império Acadiano, que se manteve por um bom período. O feito de Sargão I foi posteriormente imitado, com maior ou menor êxito, pelos reis de Ur e de outras cidades.

PERÍODOS DATAS APROXIMADAS
Civilização Pré-Sumérica 5 000 a 2 800 a.C.
Primeira Hegemonia Sumérica 2 800 a 2 470 a.C.
Império Acadiano
Invasão dos gutos 2 470 a 2 285 a.C.
2 285 a 2 150 a.C.
Nova Hegemonia Sumérica
Dinastias locais de Isin e Larsn 2 150 a 2 016 a.C.
2 016 a 1 894 a.C.
Primeiro Império Babilônico
Dinastias Gassitas e elamitas 1 894 a 1 595 a.C.
1 595 a 1 100 a.C.
Império Assírio 1 100 a 612 a.C.
Novo Império Babilônico 612 a 539 a.C.
ARTES NOS SÉCULOS. SP., Ed. Abril, 1969, v.1, p.104


O IMPÉRIO BABILÔNICO

Aproximadamente em 1 894 a.C., Hamurabi, rei da cidade da Babilônia, fundiu novamente todas as cidades da Mesopotâmia num só Império, sob sua autoridade, formando o primeiro Império Babilônico, que durou até cerca de 1 595 a. C.
Hamurabi promoveu a unificação administrativa do Império Babilônico usando para isso uma nova legislação – o Código de Hamurabi – atingindo todo o reino. Seus artigos regulamentavam toda a vida da comunidade: a divisão em classes sociais, o comércio, os juros, o casamento, a herança, etc. O direito penal repousava na lei de talião: “olho por olho, dente por dente”, variando as punições de acordo com a classe social do acusado.

“Se um homem roubou o tesouro do deus ou do palácio, este homem é passível de morte e aquele que recebeu o objeto roubado também é passível de morte.

Se um homem furar o olho de um homem livre, furar-se-lhe-á um olho.

Se ele fura o olho de um escravo alheio ou quebra um membro ao escravo alheio, deverá pagar a metade de seu preço.

Se um arquiteto constrói uma casa para alguém, porém não a faz sólida, resultando daí que a casa venha a ruir e matar o proprietário, este arquiteto é passível de morte.

Se ao desmoronar, ela mata o filho do proprietário, matar-se-á o filho deste arquiteto.” (Citado por AQUINO, R. & Outros. História das sociedades. Das Comunidades Primitivas às Sociedades Medievais. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico S/A, 1982, p.114)

Um baixo-relevo em basalto, encontrado em 1901, mostrava Hamurabi recebendo o código de leis do deus-sol Shamash, o que comprova a crença do povo em sua origem divina. Com a ascensão da cidade da Babilônia a capital de um vasto império unificado, Marduk, seu deus local, tornou-se supremo, submetendo Enlil, o deus sumério e os demais deuses. Assim, Hamurabi conseguiu também a unidade religiosa.
O aperfeiçoamento e a unificação dos canais de irrigação, que controlavam as águas dos rios Tigre e Eufrates, possibilitaram um intercâmbio fluvial intenso entre as cidades, favorecendo o desenvolvimento comercial.
Com o crescente desenvolvimento econômico da Babilônia, suas classes sociais ficaram assim definidas: logo abaixo do rei, situavam-se os sacerdotes e as sacerdotisas que desempenhavam funções religiosas, os altos funcionários e os grandes senhores de terras. Seguiam-se os comerciantes, os escribas e os artesãos especializados que constituiam a maior parte dos cidadãos livres. Abaixo estavam camponeses, pastores, pescadores e artesãos, semi-livres, diretamente subordinados ao rei, seguidos pelos escravos (devedores ou prisioneiros de guerra).
As revoltas internas e as sucessivas invasões estrangeiras (elamitas e cassitas) desorganizaram a vida econômica do Império Babilônico; à ruína dos camponeses somou-se a destruição das redes de canais, conseqüência dessas lutas, enfraquecendo o Estado na época dos sucessores de Hamurabi. Esses estrangeiros permaneceram na região até cerca de 1 100 a.C., quando os assírios do norte da Mesopotâmia, os subjugaram, iniciando a formação do Império Assírio.




O IMPÉRIO ASSÍRIO

Os assírios eram agricultores e pastores. Chamavam seu país de Assur, que também era o nome do deus local e de sua principal cidade, localizada às margens do rio Tigre. A região possuía riquezas minerais como o cobre e o ferro, além de madeira e pedra.
A vida urbana desenvolveu-se com a conquista da região por Sargão I, durante o Império Acadiano, por volta de 2 500 a.C. Foi nessa época que os assírios conheceram a metalurgia e a escrita cuneiforme. Posteriormente, a Assíria permaneceu por longo período dominada pelo Império Babilônico.
Os reis eram representantes do deus Assur e exerciam atividades militares no comando dos exércitos. A partir do século VIII a.C., os assírios iniciaram um movimento de expansão territorial sobre as cidades vizinhas. No século VII a.C., sob o reinado de Assurbanípal, o Império Assírio atingiu sua máxima extensão, englobando praticamente todo o Oriente Próximo: do Golfo Pérsico até a Ásia Menor e o Egito.
Devido às guerras de conquistas, cresceu a importância do exército e dos chefes militares, que se tornaram grandes proprietários de terras e de escravos (prisioneiros de guerra). Juntamente com os sacerdotes, gozavam de imensos privilégios, como a isenção de impostos. A massa da população era formada por camponeses e artesãos, obrigada ao pagamento de impostos e à prestação de serviços ao Estado, como a construção de estradas, palácios e templos.
Após a morte de Assurbanípal, começou o enfraquecimento do Império Assírio. Os países subjugados deixaram de pagar os tributos; sucederam-se revoltas internas e invasões de nômades da Ásia Central. O predomínio assírio termina em 612 a.C., com a tomada de Nínive pelos reis da Média e da Babilônia.
Com a queda de Nínive, a cidade da Babilônia tornou a projetar-se, formando o SEGUNDO IMPÉRIO BABILÔNICO. Abriu-se uma época de desenvolvimento cultural e comercial para a Babilônia, que terminou em 539 a.C. com a ocupação da Mesopotâmia pelos persas.

AS ARTES E A CIÊNCIA

A escrita cuneiforme dos sumérios foi empregada em toda a Mesopotâmia, na Síria, na Palestina, na Ásia Menor e no Irã. Assim como no Egito, apenas uma minoria (os sacerdotes e os escribas) sabia ler e escrever; dominar a escrita significativa, pois, uma forma de poder. A a massa da população era analfabeta.
Na arquitetura destacaram-se os zigurates, torres de vários andares, dispondo de rampas inclinadas que ligavam as plataformas. No alto, erguia-se o templo da divindade local. Construíram-se também palácios, templos e fortificações, ornados com esculturas em baixo-relevo.
Utilizando como observatório as torres dos templos, os babilônios desenvolveram a Astronomia: determinaram os movimentos dos planetas e das estrelas e criaram um aperfeiçoado calendário. Desenvolveram também a Astrologia, originando os signos do Zodíaco. Na Matemática, inventaram o sistema sexagesimal e um sistema de pesos e medidas que permitia calcular o comprimento, a superfície e o volume dos corpos. Fizeram também progressos na Medicina, descrevendo numerosas moléstias e os remédios a serem aplicados.
Quando um templo era demolido, enchia-se de tijolos e construía-se o que lhe sucedia sobre essas fundações. Desta maneira, o templo permanecia de pé, consagrado ao deus até a eternidade.

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