sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Antigo Egito


LOCALIZAÇÃO


O Egito está situado no nordeste da África, entre os desertos de Saara e da Núbia. É cortado pelo rio Nilo no sentido sul-norte, formando duas regiões distintas: o Vale, estreita faixa de terra cultivável, apertada entre desertos, denominada Alto Egito; o Delta, em forma de leque, com maior extensão de terras aráveis, pastos e pântanos, denominado Baixo Egito.

A FORMAÇÃO DO ESTADO EGÍPCIO (5000/3000 a.C.)

Por volta do quinto milênio antes de Cristo, com o progressivo ressecamento do Saara, bandos de caçadores e coletores de alimentos se fixaram às margens do Nilo. Iniciaram o cultivo de plantas (trigo, cevada, linho) e a domesticação de animais (bois, porcos e carneiros), favorecidos pelas inundações notavelmente regulares e ricas em húmus do rio.
Os grupos humanos constituíam-se em clãs, que adotavam um animal ou uma planta como entidade protetora – o Tótem. A cerca de 4 000 a. C., as aldeias de agricultores passaram a se agrupar, visando a um melhor aproveitamento das águas do rio, formando os “nomos”, primeiras aglomerações urbanas. Desenvolveu-se um trabalho coletivo de construção de reservatórios de água, canais de irrigação e secamento de pântanos. A agricultura passou a gerar excedentes, utilizados nas trocas entre os nomos. Os egípicios aproveitavam também a riqueza mineral da região, extraindo granito, basalto e pedra calcárea das montanhas que margeiam o vale.
Os nomos eram independentes entre si e dirigidos pelos nomarcas que exerciam ao mesmo tempo a função de rei, juiz e chefe militar. Gradualmente, os nomos foram se reunindo em dois reinos, um no Delta, Baixo Egito, e outro no Vale, Alto Egito, que mais tarde irão constituir um só Império. Nesse período anterior à unificação, os egípicios já haviam criado a escrita hierográfica e um calendário solar, baseado no aparecimento da estrela Sírius, dividido em 12 meses de 30 dias cada, mais cinco no final do ano.
Os antigos habitantes atribuíam a unificação do país, que ocorreu por volta de 3 000 a.C., a um personagem lendário, Menés, rei do Baixo Egito, que teria conquistado o Alto Egito e formado um só reino com capital em Mênfis. Segundo a crença, o responsável pela unificação era considerado sobre-humano, verdadeiro deus a reinar sobre o Alto e o Baixo Egito e o primeiro “faraó” (rei-deus egípicio).
Ora, isso não pode ser comprovado arqueologicamente. A unificação decorreu da necessidade de uma direção centralizada para o melhor controle das enchentes do rio, que tanto podiam trazer a fartura das colheitas, como a destruição das aldeias e das plantações. De todo modo, a crença serviu para divinizar os governanes que se utilizaram muito bem dela para se impor à população e manter um domínio direto sobre todas as terras do Egito.

PERÍODOS DATAS APROXIMADAS DINASTIAS
Idade Neolítica 5 000 a 3 000 a.C. Pré-dipástico
Império Tinita
Capital: Tinis 3 000 a 2 778 a.C. I – II
Antigo Império
Capital: Mênfis 2 778 a 2 263 a.C. III – VI
1º Período Intermediário 2 263 a 2 040 a.C. VII – X
Médio Império
Capital: Tebas 2 040 a 1 680 a.C. XI – XIV
2º Período Intermediário 1 680 a 1 580 a.C. XV – XVII
Novo Império
Capital: Tebas 1 580 a 1085 a.C. XVIII – XX
Baixa Época
(reis líbios, reis etíopes, renascimento saíta e domínio persa) 1 085 a 332 a.C. XXI – XXX
Época Grega
Capital: Alexandria 332 a 30 a.C. Ptolomeus
ARTES NOS SÉCULOS. SP., Ed. Abril Cultural, 1969, v. l, p. 56

Recebendo impostos e serviços dos camponeses ds aldeias, que cultivavam as terras, os faraós acumularam grande soma de poder e de riqueza.

O PERÍODO DINÁSTICO

Com a unificação dos nomos em um único Estado, iniciou-se o período dinástico da história do Egito, que se divide em três eras principais – o Antigo Império, o Médio Império e o Novo Império – separados por períodos intermediários em que a autoridade faraônica decaiu, trazendo anarquia e descentralização.

O Antigo Império, entre 2 700 e 2 200 a.C., foi a época em que o poder absoluto dos faraós atingiu o auge, principalmente durante a IV Dinastia, dos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos, que mandaram construir as enormes pirâmides (sepulcros) da planície de Gizé, perto da capital, Mênfis.

O Médio Império, com capital em Tebas, aproximadamente de 2 000 a. C., a 1 700 a.C., foi uma época de expansão territorial, de progressos técnicos nos canais de irrigação e de exploração de minérios na região do Sinai. A mando do faraó Amenemá I, da XII Dinastia, foi construída uma grande represa para armazenamento das águas, que ficou conhecida como lago Méris ou Faium.
No período intermediário que se seguiu, houve aumento do poderdos “nomarcas”, rebelião de camponeses e escravos e ocupação do Delta pelos hicsos, povo de origem asiática, iniciando um período que durou cerca de um século e meio.

O Novo Império começa com a expulsão dos hicsos por volta de 1 580 a.C., e marcou o ponto culminante do país como potência política. Os faraós dos Novo Império, destacando-se Tutmés II e Ramsés II, deram início a uma política externa expansionista, com a conquista da Núbia (ao sul), da Síria, da Fenícia e da Palestina, formando um Império que chegava até o Eufrates.
Seguiu-se um período denominado Baixo Império, de sucessivas invasões por povos estrangeiros: assírios (671 a.c.), persas (525 a.C.), macedônios (332 a.C.) e romanos (30 a.C.) que liquidaram o Império Egípicio, uma civilização que perdurou por cesa de 35 séculos (3 500 anos).

O RIO NILO E A ECONOMIA DO EGITO ANTIGO

O rio Nilo exerceu importância fundamental na economia do Egito, oferecendo água e terra cultivável a uma região situada em pleno deserto. Mas era preciso utilizar a inundação, distribuir a água equitativamente, aumentar a superfície irrigada e drenar pântanos. Isso foi feito a partir dos nomos, num trabalho coletivo que envolvia a população de várias aldeias.
O grande rio fornecia a alimentação, a maior parte da riqueza e determinava a distribuição do trabalho das massas camponesas nas aldeias. Durante a Inundação (jul /out), com os campos alagados, os homens transportavam pedras para as obras de construção dos faraós, escavavam poços e trabalhavam nas atividades artesanais. Na Vazante (nov / fev), com o reaparecimento da terra cultivável, captavam as águas e semeavam. Com a Estiagem (mar / jun), colhiam e debulhavam os cereais. A alimentação era complementada pela pesca e pela caça realizada nos pântanos do delta do Nilo. A agricultura produzia cevada, trigo, legumes, frutas, uvas e linho.
As atividades artesanais, de artigos destinados ao consumo da população, eram realizadas nas oficinas das aldeias. Desenvolviam-se em função das matérias primas e dos produtos agrícolas oferecidos pelo rio: tijolos e vasilhames fabricados com a argila úmida das margens; vinho, pão, cerveja e objetos de couro; fiação e tecelagem do linho; utilização do papiro para a produção de cordas, redes, papel e barcos. O Delta era o principal centro pecuário e vinícola.
O artesanato de luxo, de consumo da aristocracia, de alta especialização e qualificação excepcional – ouriversaria, metalurgia, fabricação de vasos de pedra dura ou de alabastro, faiança, móveis, tecidos finos – concentravam-se em oficinas mais importantes, pertencentes ao faraó e ao templos. A cidade de Mênfis possuía a melhor metalurgia.
Os funcionários do Faraó eram responsáveis pela circulação dos produtos entre as diversas regiões do país e pela organização do trabalho de mineração e das pedreiras, exploradas através de expedições ocasionais.
O pequeno comércio local trocava produto por produto; em transações maiores usavam-se pesos de metal. O grande comércio externo, por terra ou por mar, era realizado com as ilhas de Creta e Chipre, com a Fenícia e com a costa da Somália, para a importação de madeira para a construção naval, prata, estanho, cerâmica de luxo, lápis-lazúli. Organizava-se através de grandes expedições ordenadas pelo Faraó, mobilizando mercadores, funcionários e soldados.
O Faraó, através de seus funcionários, controlava diretamente todas as atividades econômicas, proprietário que era das terras do Egito: planejava as obras de irrigação, a construção de tempos, pirâmides e palácios; fiscalizava a produção agrícola e artesanal; organizava o comércio e a exploração das minas; distribuía o excedente; cobra os impostos dos camponeses, usados para sustentar o Estado. O Palácio e o tempo dos deuses eram o centro da acumulação da riqueza.

A MONARQUIA EGÍPICIA: O FARAÓ E SEU POVO

A sociedade do Egito Antigo encontrava-se dominada pelo FARAÓ e por uma aristocracia hereditária, formada pela família real, pelos altos sacerdotes, funcionários e chefes militares. Constituíam a parte menor da população total do Egito.
O Faraó, cujo poder sem limites possuía uma forte base religosa, era o intermediário necessário entre seu povo e os deuses. Considerado o proprietário de todo o Egito, suas funções consistiam em assegurar a ordem interna, dirigir a economia, defender o país e cuidar da religião.
Os altos sacerdotes dedicavam todo seu tempo ao serviço pessoal dos deuses; acumulavam grandes riquezas pelas doações reais e pela administração dos bens do tempo; desfrutavam de privilégios, como a isenção de impostos, graças à importância da religião para os antigos egípicios.
Dentre os mais altos cargos do governo, estavam o de vizir (primeiro ministro), o de tesoureiro-chefe, o de chefe da coleta de impostos, o de ministro das obras públicas e de comandante do exército. Todos esses altos funcionários prestavam obediências ao Faraó. Também se destacavam os Nomarcar – governadores dos nomos – escolhidos pelo Faraó dentre os descendentes dos clãs mais importantes.
Numa situação social intermediária, encontravam-se os numerosos escribas e funcionários inferiores (encarregados dos registros contábeis e administrativos, da arrecadação de impostos, da fiscalização das obras públicas e do recenseamento da população), os sacerdotes de baixa hierarquia (astrólogos, leitores de livros sagrados, cantores, músicos, portadores de objetos sagrados e inspetores dos artistas do tempo), além de artífices e artistas especializados que estavam a serviço do Faraó e dos templos.
A vasta maioria da população era formada pelas massas que trabalhavam nas oficinas artesanais, nos campos e nas minas. Desenhistas, pedreiros, carpinteiros, escultores, pintores, tecelões, joalheiros e armeiros eram recrutados pelo Faraó, nobres e altos sacerdotes, para o trabalho em seus palácios, templos e oficinas reais. Recebiam, pagamento em ração: pão, cerveja, cebola, carne seca, gordura e sal.
Os camponeses ou felás, analfabetos, eram servos que trabalhavam as terras do Faraó, dos templos, dos altos funcionários e das aldeias. Forneciam ao Estado rendimentos enormes, sob a forma de impostos “in natura” sobre suas safras e rebanhos, ficando apenas com uma pequena parte do que produziam. Na época d cheia, eram chamados a trabalhar compulsoriamente na construção de palácios, templos túmulos e nas obras de irrigação. Eram também recrutados para servir no exército, se necessário.
Abaixo dos camponeses, havia um pequeno número de escravos, geralmente prisioneiros de guerra, forçados a trabalhar nas minas de ouro e cobre da Núbia, do Sudão e do Sinais. Os mais afortunados eram designados para o serviço doméstico da família real e da nobreza.
Os trabalhadores eram mantidos na submissão pela vigilância, pela repressão e por um conformismo baseado na crença do caráter divino da monarquia. Os que se negavam a cooperar eram impedidos de chegar às fontes de água ou de terem os seus campos irrigados, através do corte da água.
O Estado egípcio era assim uma monarquia despótica, em que o Faraó, com poderes ilimitados, era considerado um deus. Para governar, apoiava-se num grupo privilegiado de aristocratas (altos funcionários), sacerdotes e militares) que administravam o país. Os camponeses e artesãos estavam submetidos pelo Estado a um trabalho compulsório nos campos, nas oficinas, nas mins e nas obras públicas, caracterizando a chamada “servidão coletiva”.















A RELIGIÃO EGÍPCIA

a. Origens e características:

As raízes da religião egípcia encontra-se nas aldeias neolíticas, anteriores à organização do Estado. Como a maioria dos povos primitivos, os primeiros egípcios tinham uma atitude de respeito em relação ao fenômenos da natureza – o Sol, a Lua, o Nilo – e às características marcantes dos animais – a ferocidade do leão, a força do crocodilo, etc. As primeiras divindades que surgiram eram quase sempre representadas sob a forma de um animal. Os egípcios veneravam especialmente o Sol: devem ter percebido que a vida depende dele e o adoravam sob vários nomes e diversos cultos. À medida em que foram aprendendo a dominar a natureza, passaram a valorizar as qualidades humanas e o antropomorfismo – concepção dos deuses sob a forma humana - apareceu na religião egípcia, algum tempo antes do advento da primeira dinastia.
Os egípcios eram politeístas. Cada nomo possuía o seu próprio deus, “senhor do lugar”, freqüentemente associado a um animal, enfeixando atribuições e poderes diferentes. Apenas as cerimônias do culto, executadas pelos altos sacerdotes, eram semelhantes para os diversos deuses. Quando uma cidade se tornava importante politicamente, o deus local tendia a aumentar de prestígio e o seu culto crescia. Assim ocorreu com o deus Ra de Heliópolis, o Ptah de Mênfis, o Hórus-Falcão do Delta, o Amon-Ra de Tebas, o Ibis-Tot de Hermópolis.
A religião influenciava profundamente a vida dos egípcios. Consideravam que os menores detalhes de seu quotidiano e tudo que os cercava – das cheias previsíveis do Nilo à morte acidental de um animal – dependia inteiramente da disposição dos deuses.

b. Principais crenças

Entre as principais crenças religiosas egípcias, sobressaiu-se a do deus Sol, que foi durante vinte séculos o culto oficial da monarquia faraônica. Ao lado dele, os mitos mais importantes foram os de Osíris, Ísis e Hórus, favoritos da devoção popular. Os cultos do Sol e das demais divindades estavam vinculados à importância da agricultura e das cheias do Nilo, das quais dependia a vida das aldeias.
O culto solar, elaborado em Heliópolis (“Cidade do Sol”), reconhecia o Sol – denominado Ra – como divindade suprema e criadora do Universo. Era chamado também de Kopri (sol da manhã), e de Atum (sol da tarde). Esse culto fundiu-se com o de Amon de Tebas, daí Amon-Ra.

HINO AO DEUS RÁ (O SOL): “Que belo é teu levantares-te no horizonte do céu, ó Rá (Sol), iniciador da vida! Quando te arredondas no horizonte, enches a terra de tuas belezas: és encantador, sublime. Quando repousas no horizonte ocidental, a Terra fica em trevas, como morta... Mas a aurora vem, tu despontas no horizonte, irradias como Disco do dia, as trevas dissipam-se... As Duas-Terras do Egito põem-se em festa... Todos os animais se alegram, as árvores e plantas crescem, as aves voam de seus ninhos, com as asas abertas em adoração do teu Ka... Tu criaste a Terra segundo o teu coração, com os homens e os animais, tudo que na Terra existe..., os países estrangeiros..., a terra do Egito... Tu crias o Nilo no mundo inferior e os fazes sair à superfície da terra, onde queres, para alimentar os homens do Egito... e também puseste o Nilo no Céu, para que desça aos povos afastados, para regar seus campos, suas regiões, de que eles vivam...”
(Texto do 2º milênio a. C., in A. Moret, “O Nilo e a Civilização Egípcia”, citado por: FREITAS, G. de. 900 Textos e documentos de História. Antiguidade e Idade Média. Lisboa, Plátano, 1975, v. l, p. 78.
















O MITO DE OSÍRIS: O deus Osíris era um grande rei, que sucedera a seu pai Geb (a Terra); de parceria com sua mulher; a deusa-mágica Ísis, ensinou aos homens a agricultura, inventou o pão, o vinho e a cerveja (elementos essenciais da alimentação do povo egípcio), revelou-lhes a metalurgia. Mas seu irmão Tifão ou Sete mata-o: afoga-o no Nilo, corta-o em pedaços, que espalha pelos canaviais. Então Ísis procura, recolhe e reúne os membros esparsos refaz o corpo (como múmia) e, usando da sua ciência mágica, ressucita Osíris, que viverá agora eternamente, mas no Céu. Vingando-o, seu filho, o deus Hórus, combate e vence Sete e sucede ao pai no trono do Egito. Dele recebem em herança este reino os reis humanos – os faraós – que assim têm caráter divino.

A SIGNIFICAÇÃO DO MITO OSIRIANO: Este mito, não só procura explicar a ascendência divina dos faraós, como, sobretudo, exprime no drama de Osíris, ao mesmo tempo deus da vegetação e divinização do Nilo, o mistério do nascimento das plantas e seus frutos, e depois o da sua morte, quando, na mesma ocasião em que a cheia do Nilo acaba, o vento ardente do deserto (Sete ou Tifão) sopra, e as espigas de trigo ceifadas são batidas, para se separar o grão, de que uma parte, pela sementeira, volta à terra sua sepultura, quando o rio tiver outra vez fecundado o solo (tiver também ressuscitado), para renascer em novas espigas...
(FREITAS, G. de., op. cit. V. 1, p. 47/48)

A lenda de Osíris, que conta a morte e ressurreição do deus, está intimamente ligada à vida política e sócio-econômica do Egito. Através dela, podemos obter dados sobre a unificação do Sul e do Norte, o plantio do trigo, a importância do Nilo e a origem do poder divino do Faraó.
O Faraó era a encarnação do deus e o sumo sacerdote, sendo o seu poder praticamente absoluto, porque exercido em nome do deus. Daí o Egito ser considerado uma monarquia despótica de origem divina.

c. Os templos, as cerimônias do culto e os túmulos

O templo egípcio, construído em pedra, não era um lugar à disposição do povo. Era a habitação privativa da divindade, ao qual somente o Faraó e os sacerdotes tinham acesso.
O culto diário consistia em preces, gestos consagrados, hinos e defumações de incenso, realizados pelos sacerdotes, como delegados do Faraó, em teoria o único habilitado a estabelecer a ligação entre os homens e os deuses. Pela manhã e à tarde, a porta do santuário localizada no interior do templo era aberta e a estátua do deus era reverenciada, lavada e vestida, recebendo oferendas de alimentos e bebidas. Em todos os santuários eram feitos os mesmos atos. Ao povo somente era permitido fazer suas oferendas e adorações na parte externa dos templos.
As crenças sobre a vida depois da morte fizeram dos túmulos egípcios, principalmente as pirâmides, túmulos dos faraós, os mais ricos da história humana em oferendas enterradas com os defuntos e em pinturas retratando a vida quotidiana. A crença na ressurreição do corpo conservado gerou a prática da mumificação por processos muito desenvolvidos e até hoje não inteiramente conhecidos.

O EMBALSAMENTO DE RICO: “Primeiro, com a ajuda de um ferro curvo, extraem o cérebro pelas narinas... Em seguida, com uma pedra cortante, fazem uma incisão no flanco e retiram os intestinos, que limpam e purificam com vinho de palmeira e purificam uma segunda vez com arômatas moídas. Depois, enchem o ventre de mirra pura triturada, de canela e de todos os outros arômatas, com exceção do incenso e cosem. Feito isso, salgam o corpo cobrindo-o de natrão (carbonato de sódio natural) durante 70 dias... Lavam o corpo, enrolam-o todo em faixas de linho fino, com uma camada de borracha (como cola)... Metem o morto num estojo de madeira em forma de figura humana... que guardam no interior de uma câmara funerária...”

O EMBALSAMENTO DE POBRE: “Desinfetam os intestinos... metem-no no sal durante 70 dias; entregam o corpo.” (Heródoto, “Histórias”, in: FREITAS, G. de, 900 Textos e Documentos de História. Lisboa, Plátano, 1975, v. 1, p. 49.

Enormes recursos e trabalhadores foram recrutados no Egito, na construção de templos e pirâmides para perpetuar os Faraós, suas realizações e feitos, mesmo que isso significasse o trabalho compulsório de grande parte da população, não beneficiária desses momentos. A cada ano, os sacerdotes realizavam cerimônias para garantir a chegada da inundação, e o rei agradecia a colheita solenemente às divindades adequadas. Os deuses eram consultados para solucionar problemas políticos e burocráticos, bem como os de caráter familiar. A religião penetrava, pois, em todos os aspectos da vida pública e privada dos antigos egípcios, tornando-se a base do poder do Faraó (“Senhor da Casa Grande”) e marcando profundamente a sociedade, a política, a economia, a medicina, as letras e as artes.

ESCRITA, LITERATURA, CIÊNCIAS E ARQUITETURA


A escrita hieroglífica, inventada em fins do período pré-dinástico e aperfeiçoada sob as primeiras dinastias, foi utilizada até o fim da Antiguidade. Consistia numa combinação de ideogramas (sinais que representam idéias) e fonogramas (sinais que representam sons). Deu origem a duas outras escritas mais simplificadas e mais próprias a serem grafadas no papiro: o hierático e o demótico. A escrita hierogrífica foi decifrada pelo francês Champollion, em 1822.
Os textos egípcios que se conservaram são predominantes religiosos e funerários – textos das pirâmides, textos dos sarcófagos, “Livro dos Mortos” (coletânea de ensinamentos de como proceder na vida de além-túmulo e durante o julgamento de Osíris), hinos a diversas divindades, inscrições que se referem aos mitos e rituais divinos, além de romances, poesias líricas, sátiras, tratados técnicos, etc.
A ciência egípcia consistia em conhecimentos práticos diversos como receitas de medicamentos, fórmulas geométricas e trigonométricas para a agrimensura ou para a construção. A numeração era decimal, mas não usavam o zero; conheciam a soma e a subtração. O calendário, ao mesmo tempo solar e lunar, estabeleceu-se cedo, através da observação da coincidência eventual do aparecimento conjunto do sol e da estrela Sírius. Os médicos egípcios eram famosos na Antiguidade e a prática da mumificação levou a uma acumulação de conhecimentos sobre anatomia. Não obstante, a medicina, a astronomia e os outros ramos da ciência estavam profundamente penetrados de magia e de religião.
A arte egípcia preocupou-se em expressar a riqueza e o poder dos governantes, destacando-se a arquitetura monumental, a decoração de templos e túmulos com relevos, pinturas e estátuas, a confecção de vasos de pedra e a ourivesaria.
A arquitetura era sólida, de proporções colossais, tentando expressar toda a força e poder da monarquia. Os exemplos mais conhecidos são as pirâmides (características do Antigo Império), destacando-se as dos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos; a Esfíngie, gigantesca estátua com corpo de leão e cabeça humana, cuja construção é atribuída a Quéfren; os templos de Luxor e de Carnac, erguidos no Novo Império. Além das pirâmides, a arquitetura funerária criou outros tipos de túmulos: as mastabas, de forma trapezoidal e os hipogeus, tumbas subterrâneas cavadas nas montanhas.

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