quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O CRISTIANISMO



O Cristianismo, religião fundada por JESUS CRISTO (1 a 33 d.C.) na Palestina, propagou-se pelas províncias do Império Romano baseado nas idéias de igualdade de todos perante Deus, na humildade, no amor ao próximo e na salvação após a morte. Os cristãos eram rigorosamente monoteístas e se recusavam a cultuar o Imperador e os demais cultos pagãos. Por isso, foram muito perseguidos pois sua fé em Deus era vista como uma ameaça à autoridade imperial.

Durante os séculos I, II e III, os cristãos procuraram se organizar internamente para melhor resistir às perseguições e para continuar praticando e difundindo os ensinamentos de Jesus Cristo. No fim do século III, as regiões mais cristianizadas eram o Egito, a Ásia Menor, a Síria, a Itália, a Gália Narbonense e a Espanha.

Em 312, o imperador Constantino venceu o general Maxêncio que lhe ameaçava o trono, usando em suas legiões o símbolo cristão, a cruz. Como reconhecimento, converteu-se ao Cristianismo e no ano seguinte proclamou o Edito de Milão, concedendo a essa religião uma igualdade de situação com os demais cultos pagãos e cessando com as perseguições.

Ao aceitar a liberdade doculto cristão e patrocinar em 325 o Concílio de Nicéia que definiu as bases da Igreja Católica, Constantino buscava obter uma unidade religiosa que facilitasse o controle sobre a população e fortalecesse a autoridade do Imperador. “Eu me propunha a unificar a opinião de todos os povos sob a Divindade e restituir ao Império, que me parecia atingido por muitos males, os eu antigo vigor. Esperava que, se tivesse conseguido estabelecer um acordo geral no campo religioso, a administração dos negócios públicos teria obtido vantagens.” (CONSTANTINO, segundo seu biógrafo, Eusébio de Cesaréia).

A partir de Constantino, a Igreja passou a receber doações do Estado e verbas provenientes dos impostos. Os bispos foram equiparados aos altos funcionários do Império, incorporando-lhe uma enorme e dispendiosa burocracia clerical, formada de bispos, diáconos e padres.

Embora buscasse a unidade e a universalidade, a Igreja Católica(do grego Katholikós = universal) achava-se, no século IV, profundamente dividida internamente entre os adeptos do sacerdote Ário - que não aceitava a idéia de um Cristo da natureza divina como Deus Pai – e os demais membros do clero, defensores do dogma da Santíssima Trindade.

Em 380, o imperador Teodósio, através do Edito de Tessalônica, impôs a todos os súditos do Império a religião católica “que o apóstolo Pedro transmitiu aos romanos”, de acordo com as normas do Concílio de Nicéia, reconhecendo a “única divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, ou seja, da Santíssima Trindade. Com isso, tanto pagãos quanto arianos foram colocados fora da lei e o catolicismo se transformou em religião oficial do Império. Mesmo combatido, o arianismo foi muito difundido, particularmente no Oriente e entre os bárbaros.



A organização da Igreja



Na estrutura geral da Igreja cristã, os bispos, considerados os sucessores dos apóstolos, conquistaram em muitas cidades poderes maiores do que as autoridades do Estado. Assim, a organização primitiva comunitária da Igreja foi sendo substituída por um sistema administrativo e hierárquico, semelhante ao do Império.

A cidade, com seu território urbano e rural formava uma diocese sob a liderança de um bispo, auxiliado pelos cônegos e pelos curas, encarregados das paróquias. As dioceses agrupavam-se em províncias, que tinham à frente um arcebispo ou bispo metroplitano. No topo da hierarquia encontravam-se os patriarcas, encarregados de um conjunto de províncias, com sede nas cidades mais importantes: Roma, Alexandria, Jerusalém, Antioquia e Constantinopla.

No Ocidente, aceitava-se que o bispo de Roma, sucessor de apóstolo Pedro e pastor da primeira cidade do mundo, exercesse uma posição predominante, sendo chamado de Sumo Pontífice ou Papa, o chefe supremo da Igreja Católica Apostólica Romana. No Oriente, a supremacia do Papa nunca foi aceita, prevalecendo a existência dos patriarcas.



A “Cidade de Deus”



No ano de 410, pela primeira vez após oito séculos, Roma, a “cidade eterna”, foi ocupada e saqueada pelos bárbaros visigodos, liderados por Alarico. O acontecimento, de grande repercussão, foi atribuído pelos pagãos aos cristãos, devido ao abandono do culto dos antigos deuses, que agora manifestavam sua vingança. Os cristãos sentiram-se acometidos de muito pessimismo, substituindo o triunfalismo que conheciam desde o reconhecimento de sua religião pelo Egito de Milão, em 313.

Nesse momento difícil do Cristianismo, destacou-se Agostinho, o bispo de Hipona(cidade do norte da África) e a voz mais importante da Igreja na época. Agostinho defendia a tese de que o homem é condenado pelo pecado original ao inferno e somente pode se salvar através da graça divina. O homem se afasta de Deus por sua própria vontade, enveredando-se pelo mal. É então que a graça divina intervém e pode salvá-lo. Mas nem todos conseguem se salvar, só os escolhidos por Deus.

Essas idéias aparecem formuladas em sua obra “A Cidade de Deus”, escrita entre 413 e 426. O pecado foi responsável pelo aparecimento da “cidade dos homens’, marcada por sofrimentos, guerras e fome, exceto para aqueles eleitos por Deus para a salvação e que edificariam a “idade de Deus”, vivendo em bem-aventurança. Segundo Agostinho, as duas cidades coexistiam, “cidade dos homens” com suas leis, costumes e poderes próprios e a “cidade de Deus” formada pela Igreja e pelos cristãos destinados à salvação, que viria no dia do Juízo Final. A queda de Roma era considerada um castigo de Deus imposto aos homens pelos seus pecados, ao mesmo tempo em que a “cidade de Deus” continuava sendo edificada. E Santo Agostinho afirmava: “Roma não é eterna, porque somente Deus é eterno.

A teoria agostiniana das duas cidades foi utilizada durante toda a Idade Média para justificar a predominância do poder espiritual(a Igreja) sobre o poder temporal(o Estado) e a sua doutrina da graça e do pecado se tornou a base do cristianismo medieval.

A Igreja e o fim do Império Romano


Com a crise e o fim do Império Romano em 476, a Igreja foi a única instituição que sobreviveu organizada e não sucumbiu frente às invasões germânicas. Naquele mundo inseguro e confuso, à medida em que o Estado romano se desintegrava, a Igreja assumia muitas de suas funções, principalmente as de cunho assistencial.

Nessa época, a alta cúpula da Igreja já detinha imensas riquezas, transformando-as na maior proprietária de terras do Ocidente. O patrimônio recebido dos imperadores foi acrescido de esmolas, de doações territoriais e de heranças de cristãos que procuravam garantir, dessa forma, a salvação de sua alma após a morte.

Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989

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